Saboreando a Palavra

31/08/2018

“Mandamento de Deus e tradição humana” – Mc 7,1-8.14-15.21-23 – Neste 22º domingo do TC voltamos à leitura do Evangelho de Marcos. Após diversos domingos em contato com o Evangelho de João e a bela catequese sobre a partilha e toda a teologia eucarística, voltamos como que a pisar no chão para encontrar Jesus confrontando os fariseus e os doutores da Lei. O conflito ocorre por conta da lei do “puro e do impuro”, lei esta que excluía e condenava especialmente os pobres, as mulheres, os doentes. É capítulo central de Marcos sobre a Palavra de Deus e as tradições humanas, tão ferrenhamente defendida pela classe religiosa dirigente. O ponto de partida é a crítica dos fariseus ao fato de discípulos de Jesus saciarem a fome sem antes fazer o rito de purificação. Não estavam preocupados com a higiene dos discípulos, mas com a tradição dos antigos. Os fariseus, que tramavam contra a vida de Jesus, eram profundamente exigentes na observância externa das leis e se escandalizaram porque os apóstolos não faziam os ritos de “purificação”, antes de comer, prescritos por “preceitos humanos”. Jesus denuncia essa interpretação da Lei, fruto de um espírito mesquinho e conservador: “Hipócritas… Abandonais o Mandamento de Deus, apegando-vos à tradição dos homens”. A “Lei” tem o seu lugar sim numa experiência religiosa, enquanto sinal indicador de um caminho a percorrer. É um meio para chegar a um nível melhor no compromisso com Deus e com os irmãos.  Mas o rígido cumprimento da lei e das diversas “tradições humanas” não são caminho de salvação. As práticas exteriores e formais são objeto das duras críticas de Jesus.

Deus olha o interior das pessoas, ele aprecia a pureza do coração. A fidelidade à tradição não deve impedir a justa renovação, a um processo contínuo de conversão que leva a pessoa à comunhão com Deus e a viver numa real partilha de amor com os irmãos. Hoje pode-se perceber um crescente farisaísmo na Igreja e, por que não dizer, na Vida Religiosa Consagrada. Resiste-se aos anseios sérios de renovação.  Uma exagerada fidelidade às tradições, a certas práticas e costumes, pode abafar o sopro do Espírito, que é dinamismo, profecia, que é uma “Igreja e uma VR em saída”. Jesus nos libertou de uma religião exterior, e nos mostrou o caminho de uma religião interior… “em espírito e verdade…”. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ