Uma questão de intimidade

09/05/2019

Uma questão de intimidade – Jo 10,27-30  – Já estamos no 4º domingo da Páscoa, tempo este em que a Liturgia nos iluminou com as belas narrativas da Ressurreição de Jesus. Fomos percebendo as surpresas de suas aparições entre os discípulos, a alegria das mulheres, a força e a vida nova gerada entre os seus, a disposição de partir mesmo a noite, para dizer aos demais que Ele está vivo. O evangelho deste domingo nos coloca em ambiente anterior ao da Ressurreição, mas dentro da mesma dinâmica pascal. Jesus se apresenta como o “Pastor que dá a vida pelas suas ovelhas”. “Dar a vida” foi o horizonte de toda a vida e missão de Jesus. Dar a “sua” vida, “dar vida” onde reina a morte.  O contexto do relato deste domingo nos ajuda a colocar os pés no chão da realidade e compreender melhor o sentido e a extensão dos ditos de Jesus na narrativa do cap 10 de João. Era inverno. Jesus caminhava pelo pórtico de Salomão, uma das galerias ao ar livre, que rodeavam a grande esplanada do Templo de Jerusalém. Este pórtico, em particular, era um lugar muito frequentado pelas pessoas, pois, ao que parece, estava protegido contra o vento por uma muralha. Um grupo de judeus circunda Jesus. Um encontro tenso, com duras críticas, diretas e indiretas,  às lideranças religiosas. Os judeus provocam Jesus com as suas perguntas que visam confundir, desautorizar e desviar do foco. Jesus os critica porque não aceitam a sua mensagem nem a sua atuação. E Ele lhes diz: “Vós não credes porque não sois das minhas ovelhas”. O linguajar do pastor e das ovelhas vem de tempos remotos e os judeus são sensíveis a esta imagem.  Porém Jesus é muito claro: “Minhas ovelhas escutam minha voz, eu as conheço; elas me seguem, e eu lhes dou a vida eterna”. Quem não escuta o que Jesus diz, não pertence ao Seu rebanho. Isto deve ter irritado os judeus, pois eles se tem como o único e verdadeiro rebanho do Senhor. Porém a metáfora do pastor e do rebanho não é empregada no sentido de escolha ou exclusão, tão própria da mentalidade Judaica. Para Jesus, trata-se de uma outra relação, uma relação de intimidade, de adesão profunda à sua pessoa e ao seu projeto. “As minhas ovelhas escutam a minha voz. Eu as conheço e elas me seguem”. Pode-se afirmar que mais do que tratar do “Bom Pastor”, ou identificar o 4º Domingo Pascal como “domingo do bom Pastor”, o evangelho nos propõe focar nosso olhar e a nos surpreender com a identidade das ovelhas. Elas pertencem a Jesus, não estão perdidas ou nas mãos de mercenários. São “minhas ovelhas”, pertencem ao redil de Jesus. E estas ovelhas tem um traço muito significativo: “elas escutam a minha voz”. Escutam a voz de Jesus e não outras vozes que saturam os ouvidos humanos. Não só ouvem, mas são “conhecidas por Jesus” e “elas o seguem”. Um cenário encantador! Uma intimidade da qual os doutores da lei, os autorreferentes, os que cultivam uma religião de preceitos e de práticas rotineiras não são capazes de usufruir.  Para participar deste rebanho, se faz necessário “cultivar intimidade”. Esta que faz ouvir a voz do pastor e reconhece-lo mesmo sem vê-lo. ESCUTAR a voz do Pastor e segui-lo  é a identidade do cristão. Hoje corre-se o risco de ouvir e seguir vozes de mercenários, também presentes na própria Igreja, levando ovelhas a extraviar-se do verdadeiro rebanho de Jesus. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ

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