Saboreando a Palavra – Domingo dia 14/07/2019

11/07/2019

Um homem segundo Deus – Lc 10,25-37 – O texto do Evangelho deste domingo é uma parábola  que ecoa permanentemente no nosso interior. O título aqui sugerido é de autoria de Dolores Alexander que, num comentário há anos, afirmava que o samaritano “é um homem segundo Deus”, uma vez que o vocábulo “misericórdia”, em toda a Sagrada Escritura, é só atribuído a Deus. Na parábola o mestre da Lei reconhece que este homem agiu segundo Deus. A narrativa está enquadrada num diálogo entre Jesus e um especialista em Lei, que teria a intenção de tentar Jesus. Longe de entrar numa discussão com o mestre da lei, que não levaria a nada, Jesus vai direto à Lei: “Amar ao Senhor, seu Deus, com todo o seu coração, com toda a sua alma, com toda a sua força e com toda a sua mente; e ao seu próximo como a si mesmo”, à novidade do amor cristão. A chave está na resposta à segunda pergunta do mestre da lei: “quem é meu próximo?”. E Jesus não responde com uma frase, mas com uma parábola que hoje é lida nas diferentes liturgias que são celebradas. É conveniente ler esta narrativa com nosso olhar voltado para a situação social, política, cultural, religiosa de hoje também.  “Um homem descia de Jerusalém a Jericó e é assaltado a ponto de ficar quase morto”. Quantas pessoas podem ser colocadas nessa situação hoje! É uma pessoa que aparece sem nome. Como tantas multidões hoje. Enquanto ele está “caído à beira do caminho”, várias pessoas passam a seu lado. O impressionante é que o texto deixa claro que todos o veem!! Não estavam distraídos ou preocupados com outros afazeres. Eles olham e continuam seu caminho “pelo outro lado”, sem fazer nada por ele. Há uma cegueira de coração. Indiferença, individualismo, “cada um na sua”…, os nomes podem variar, mas tudo é solidão, abandono, morte. Aparece então no mesmo caminho o samaritano que, para os judeus, é considerado um pagão, um impuro, um fora da lei, indigno de salvação. Como os outros, ele também vê o homem à beira do caminho. Movido pela compaixão, se aproxima e cuida dele. Ele age “segundo Deus”. Quem, senão Deus, teve compaixão de nossa situação a ponto de se aproximar, fazendo-se um de nós e descendo até as profundidades do sofrimento e limite humano para desde ali curá-lo e libertá-lo? “O sofrimento deve ser levado a sério” afirma o escritor Pagola. O samaritano levou o sofrimento tão à sério que “desceu do cavalo”, fez tudo o que estava ao seu alcance na linha dos “primeiros socorros”.  (É interessante elencar as ações do samaritano, descritas detalhadamente por Lucas). Depois colocou o ferido sobre seu próprio animal e conduziu-o até a hospedaria. Certamente ele fez o trajeto a pé, pois “colocou o ferido sobre o animal, no seu lugar” e cuidou dele naquela noite. No final paga a hospedagem, pede ao hospedeiro que cuide dele e ainda promete pagar a amis na volta. Estas atitudes de atenção e cuidado desafiam absolutamente nosso agir. Eu, nós não somos capazes de ceder nosso lugar, nossa cama, para abrigar um ferido caído à beira do caminho. Podemos até atender à porta da casa e dar-lhe. Só quem “atua” como Deus é o próximo do outro.  Fazer-se próximo para aliviar a dor dos caídos à beira do caminho, curá-los, defendê-los, dar-lhes vida é o caminho apontado por Jesus e reafirmado, com vigor, pelo Papa Francisco. “Em um mundo em que temos tantas riquezas e recursos para dar de comer a todos, não se pode entender como há tantas crianças famintas, sem educação, tantos pobres… A pobreza, hoje, é um grito, todos devemos pensar se podemos nos tornar um pouco mais pobres”. Ele por primeiro se pergunta: “Como posso me tornar um pouco pobre para me assemelhar a Jesus, mestre pobre?” Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ