29º Domingo do Tempo Comum – 20/10/2019

16/10/2019

O difícil tempo de Deus – Lc 18,1-8  – O Evangelho deste 29º domingo apresenta-nos mais uma etapa do “caminho de Jerusalém”. O texto hoje está na sequência do “discurso escatológico” do Evangelho de Lucas, sobre a vinda gloriosa do Filho do Homem (cf. Lc 17,20-37). Para bem entender a parábola do juiz e da viúva, convém situá-la neste ambiente.  Consideremos também que Lucas escreveu o Evangelho entre os anos 80 e 90 da nossa era, época em que as comunidades cristãs sofriam por causa da hostilidade dos judeus e já se aproximavam as grandes perseguições promovidas pelo Império Romano. Os cristãos estavam inquietos, desanimados e ansiosos pela segunda vinda de Cristo. Sentiam como que Deus não escutava as suas súplicas e não intervinha no mundo para implantar o seu projeto.  Diante deste contexto, é certo que Lucas pretende animar a comunidade para não perder de vista o horizonte da fé e do Reino de Deus. Ao contrário do que parece, mostra que Deus não abandonou o seu povo, nem é insensível aos seus apelos e surdo aos seus clamores.  Ele tem o seu projeto, o seu plano e o seu modo próprio para intervir. Agora é cultivar a paciência e confiar que Ele irá intervir para libertar. O nosso texto consta de uma parábola e da sua aplicação teológica. Os personagens centrais da parábola são uma viúva e um juiz (vv 2-5). A viúva, pobre e injustiçada, personagem que representa todos os pobres sem defesa, vítimas da prepotência dos ricos e dos poderosos. Segundo a narrativa, ela  passava a vida a queixar-se do seu adversário e a exigir justiça; mas o juiz, “que não temia Deus nem os homens”, não lhe prestava qualquer atenção. Juízes injustos e insensíveis são históricos. No caso da parábola, o juiz, apesar da sua dureza e insensibilidade, acaba por fazer justiça à viúva, não por ser justo, mas para se livrar definitivamente da sua insistência persistente. A seguir, vem a aplicação teológica da parábola (vv. 6-8). O Evangelho anuncia que Deus não está ausente, nem fica insensível diante do sofrimento do seu povo. Se um juiz prepotente e insensível é capaz de resolver o problema da viúva por causa da sua insistência, Deus que não é um juiz prepotente e sem coração, não iria escutar os seus? Então vem a catequese de fundo: os seguidores de Jesus devem cultivar a certeza de que Deus os ama e que tem um projeto de salvação para todos. Essa certeza se adquire por meio da oração, de uma relação pessoal, uma comunhão íntima, um diálogo insistente. Deus, que é rico em misericórdia e que defende sempre os fracos, estará atento às súplicas dos seus filhos. Hoje muitos questionamentos semelhantes circulam em nossas mentes: Por que Deus permite que tantos milhões de pessoas sobrevivam em condições tão desumanas? Por que os maus e injustos praticam arbitrariedades sem conta sobre os mais débeis e nenhum mal lhes acontece? Como é que Deus aceita que cerca de metade da humanidade não tenha o necessário para uma vida digna? Onde está Deus quando as ditaduras ou os imperialismos maltratam povos inteiros? Quando juízes proferem sentenças injustas? A boa nova de Jesus é esta: Deus não é indiferente aos gritos e sofrimentos dos pobres. Ele não desistiu de intervir no mundo e na história. É que seu jeito não está nas nossas medidas. Deus tem planos que nós, na nossa ânsia e impaciência, não conseguimos perceber. Cabe-nos respeitar a lógica de Deus, confiar n’Ele e entregarmo-nos nas suas mãos. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ