Saboreando a Palavra – 4º Dom. Quaresma – 22/03

17/03/2020

“Eu sou a luz” – Jo 9,1-41 – No Evangelho deste domingo, Jesus apresenta-se como “a luz do mundo”. A sua missão é libertar a humanidade da cegueira, das trevas do egoísmo, do orgulho e da autossuficiência. Assumir a proposta de Jesus é entrar no caminho da liberdade e dea realização que conduz à vida plena. Da ação de Jesus nasce a pessoa com olhar iluminado, reconhecendo Jesus como “Luz do mundo”. Estamos lendo nestes dois domingos seguidos, narrativas do Evangelho de João. “Quem beber da água que eu der, não terá mais sede”, afirmava Jesus no domingo anterior. Neste, ele se apresenta como “Luz”. O ensinamento sobre a “luz” é colocada no contexto da “Festa das colheitas”, uma  das “festas judaicas”. Um dos ritos mais populares dessa festa era a iluminação dos quatro grandes candelabros do átrio do Templo de Jerusalém, que deixava o átrio todo iluminado. Neste contexto aparece o episódio do cego, um dos excluídos da época, impossibilitado de participar desta festa de luzes. Na teologia tradicional oficial, as deficiências físicas eram consideradas castigo por pecados pessoais ou de ancestrais. Daí a pergunta feita a Jesus: “Quem pecou, ele ou seus pais para que nascesse cego” (v2).  Segundo a concepção da “Teologia da retribuição”, doutrina oficial da época, Deus castigava de acordo com a gravidade da culpa. A cegueira era considerada o resultado de um pecado especialmente grave. Uma doença que impedisse o homem de estudar a Lei era considerada uma grande maldição de Deus. Pela sua condição de impureza notória, os cegos eram impedidos de participar nas cerimônias religiosas no Templo. Neste contexto devemos situar a narrativa do cego de nascença, alguém que nunca viu a luz. Precisamos considerar que o texto não é uma reportagem jornalística sobre a cura de um cego. É um forte anúncio no qual Jesus se apresenta como a “luz” que veio iluminar o caminho da humanidade.  O “cego” do relato é um símbolo de todos os homens e mulheres que vivem na escuridão, privados da “luz”. São muitos os aspectos a serem “saboreados” neste Evangelho. Trata-se do “sexto sinal” do evangelho de João. Destacando um dos atos de Jesus no relato, observemos que ele começa  por cuspir no chão, fazer lama com a saliva e ungir com esse lodo os olhos do cego. O gesto de fazer lama de barro reproduz, evidentemente, o gesto criador de Deus de Gn 2,7, quando Deus amassou o barro e modelou o homem. Considerava-se que a saliva transmitia a própria força ou energia vital, equivalente ao sopro de Deus, que deu vida a Adão (cf. Gn 2,7). Assim, Jesus juntou ao barro a sua própria energia vital, repetindo o gesto criador de Deus. A missão de Jesus é criar um mundo novo, eliminar toda “cegueira”, libertar a humanidade e fazê-la viver na “luz” . A luz foi a primeira obra criada no relato da criação. Jesus veio criar uma humanidade nova,  animada pelo sopro, pelo espírito de Jesus. Trata-se de uma nova criação, repleta de Luz. Que a Quaresmo nos ajude a mergulhar nesta dinâmica da Luz. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ