Saboreando a Palavra – 5º Dom. 29/03

26/03/2020

“Senhor, teu amigo está doente”- Jo 11,1-45 – Neste 5º Domingo da Quaresma a liturgia vem ao encontro da realidade de forma muito oportuna. Em plena pandemia do COVID 19, – “corona vírus” – em que a visão do vale dos ossos secos de Ezequiel (1ª leitura) se torna cenário atual em certas nações, o evangelho traz este apelo de pessoas que amam a vida: “Senhor, teu amigo está doente”. O Evangelho garante-nos que Jesus veio realizar o plano de Deus e trazer vida plena para a humanidade. Quem lê atentamente João, reconhece que nele há uma divisão literária bem distinta: o livro dos Sinais (cf. Jo 4,1-11,56), e o Livro da Glorificação (cf Jo 13,1-20,29). No 4º Evangelho, as ações de Jesus não são “milagres”, mas SINAIS. A ação sinaliza para revelar  “quem é Jesus”. Vejamos: na multiplicação dos pães, Ele proclama: “eu sou o pão da vida”. Na cura do cego: “Eu sou a luz do mundo”. Na ressurreição de Lázaro Jesus é reconhecido como “ressurreição e vida”. São sete os sinais realizados por Jesus, que revelam quem Ele é, e manifestam a sua glória. O Evangelho deste domingo nos traz o “sétimo sinal”, a plenitude de sua glória. Trata-se de uma narração única, que não tem paralelo nos outros três Evangelhos. A cena situa-nos em Betânia, uma aldeia distante uns três quilômetros de Jerusalém. Estamos frente a um triste episódio familiar, especialmente para a sociedade judaica: a morte de um homem da família, família esta constituída por três pessoas: “Marta, Maria e Lázaro”. Pelo que tudo indica, eram bem conhecidos de Jesus. Não só conhecidos, mas “Jesus amava Marta, a sua irmã Maria e Lázaro” (v.5). Esta família de Betânia apresenta algumas características que revelam a boa nova do Reino de forma exemplar. Não há qualquer referência a outros familiares, além de Maria, Marta e Lázaro: não há pai, nem mãe, nem filhos. Também João insiste no grau de parentesco que une os três: são “irmãos” (vv. 1.2b.3.5.19.21.23.28.32.39). A palavra “irmão” será a palavra usada por Jesus após a ressurreição, para definir a comunidade dos discípulos (Jo 20,17). Irmãos são os membros da comunidade cristã primitiva (cf Jo 21,23). Aqui se trata de uma família amiga de Jesus, que Jesus conhece e que conhece Jesus, que ama Jesus e que é amada por Jesus, que recebe Jesus em sua casa, traços que caracterizam a comunidade cristã. Um fato abala a vida desta família: um “irmão” (Lázaro) está gravemente doente. As “irmãs” mostram o seu interesse, preocupação e solidariedade para com o “irmão” doente e informam Jesus. A relação de Jesus com Lázaro é de afeto e amizade; mas Jesus não vai imediatamente ao seu encontro. Parece, até, atrasar-se deliberadamente (v. 6). Com a sua passividade, Jesus deixa que a morte física do “amigo” aconteça. Como acontece nestes tempos de pandemia. Significa que Jesus não veio para alterar o ciclo normal da vida física do ser humano, libertando-o da morte biológica, mas veio para dar um novo sentido à morte física e para oferecer a vida eterna. O relato é longo e muitas luzes emergem deste texto. Porém, no atual contexto de epidemia, quando tantos “amigos de Jesus” estão doentes ou já sepultados, a Boa Nova de Jesus nos ilumina, conforta e traz novos apelos. É preciso dizer a Jesus que  seus amigos estão doentes. É preciso confessar a nossa fé no Deus da vida. A nova “família dos irmãos” cuida de quem está doente”. Que o Senhor da vida abra as sepulturas de tantos que já partiram e lhes abra as portas da eternidade. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ