DOMINGO DA DIVINA MISERICÓRDIA -19/04/2020

16/04/2020

“Na tarde do primeiro dia” – Jo 20,19-31- Domingo da Divina Misericórdia – Estamos no segundo domingo da Páscoa, deste ano em que a humanidade vive uma pandemia nunca imaginada. Por providência ou coincidência, é o domingo da “divina misericórdia”.  Nada melhor, pois de todos os cantos da terra sobem clamores por misericórdia. Esta pandemia nos oportunizou, quem sabe, vivermos uma páscoa mais próximo daquela que vitimou o Salvador do mundo e assim podemos mergulhar mais profundamente no mistério da cruz. O evangelho de hoje inicia dizendo: “Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, colocou -se no meio deles e disse lhes: “A paz esteja convosco”. Já é de “tarde”, fim do dia. No entanto, é o “primeiro dia da semana”, o início de um novo tempo, de uma nova criação, o início de uma humanidade nova e reconciliada. Mas continua o medo, a insegurança, a fragilidade. Já declina o dia, declina “o primeiro dia”, as portas estão fechadas, o medo é uma experiência concreta. Em tempos de pandemia, este texto nos provoca novas leituras e novas sensibilidades. Somos uma humanidade que alcançou um avanço científico não imaginado. Mas estamos numa “tarde” da história de nossas vidas, de “portas fechadas”, todos “em casa”, com muito medo desta pandemia. Vivemos numa profunda insegurança, evidencia-se a nossa fragilidade. Naquela tarde Jesus veio, colocou-se no meio e disse: “a Paz esteja convosco”. Um clamor silencioso perpassa toda a humanidade crente: que Jesus venha, que se coloque em nosso meio e conceda-nos a PAZ! Olhemos o Evangelho mais de perto! Do ponto de vista literário, a narrativa divide-se em duas partes bem distintas. Na primeira parte (vv. 19-23), temos a “aparição” de Jesus e a descrição da situação dos discípulos. Jesus apareceu e se colocou “no meio deles”. Certamente não se trata de uma localização física. Jesus no meio indica que Ele é o “centro” da comunidade (v. 19b). Estando no centro, deseja o que há de melhor: a Paz!  Transmite, por duas vezes, a PAZ (vv. 19 e 21).  A PAZ é o “SHALOM” hebraico, no sentido de “harmonia, serenidade, tranquilidade, confiança, saúde, alimentos, bem estar, vida plena”. É de SHALOM que a humanidade mais necessita neste momento. Depois Jesus revela a sua “identidade e missão”. Têm as mãos chagadas e o lado trespassado, sinais do seu serviço e da sua entrega. É nestes sinais de serviço e entrega que se reconhece Jesus vivo. Em seguida (v. 22), Jesus “soprou” sobre os discípulos, o mesmo sopro de Deus na criação, quando o homem tornou-se um “ser vivente”. Com este “sopro”, Jesus transmite aos discípulos a vida nova. Assim revestidos do Espírito, da vida de Deus, cabe aos discípulos/as trazerem as mãos chagadas e o lado trespassado pelo serviço em defesa da vida. Uma experiência tão viva nos cuidadores das pessoas afetadas pelo COVID 19. Na segunda parte (vv. 24-29), temos a figura de Tomé, que representa aqueles ausentes da comunidade, fora da corrente de solidariedade, que vivem fechados em si próprios e não percebem os sinais de vida nova. Não são capazes de participação ativa, de partilha solidária, acreditam apenas em si, no seu saber e em alguma demonstração particular de Deus. Na infinita misericórdia, estando na comunidade, Jesus, porém, concede a Tomé fazer a experiência do ressuscitado. Era a “tarde do primeiro dia”. Que na “tarde’ desta pandemia, Deus nos conceda a PAZ; nos conceda a experiência do Ressuscitado e nos acolha na sua MISERICÓRDIA. (Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ)