Quarto Domingo de Páscoa – 03/05/2020

30/04/2020

A serviço da vida plena – Jo 10,1-10 – O 4º Domingo da Páscoa é o “Domingo do Bom Pastor” e o dia mundial de Oração pelas Vocações. A liturgia propõe sempre um trecho do capítulo 10 do Evangelho segundo João, no qual Jesus se apresenta como “Bom Pastor”. Uma imagem que estará presente mais fortemente em nossas súplicas, em tempos de vida ameaçada pela pandemia! A imagem do “bom Pastor” não é original no 4º Evangelho. Este discurso simbólico faz eco ao texto de Ezequiel 34. O profeta, dirigindo-se aos exilados da Babilônia, constata que, ao longo da história, os líderes de Israel foram maus “pastores”, que conduziram o povo por caminhos de desgraça e de morte. Não cuidaram das ovelhas conforme a ordem divina.  Anuncia que o próprio Deus vai assumir a condução do seu povo, por meio de um “bom Pastor”, que o livrará da opressão e o conduzirá a “verdes pastagens”. Assim sendo, o texto deste domingo precisa ser entendido no contexto mais amplo da denúncia da atuação dos dirigentes judeus. O evangelista situa Jesus na “Festa das Tendas”, uma festa muito popular, que conta com a presença dos dirigentes de Israel (cf Jo 7,2ss). São vários os conflitos, entre Jesus e as autoridades, narrados nestes capítulos ( cf. Jo 7 a 10). No relato do cego de nascença (cf. Jo 9), texto imediatamente anterior ao discurso do Bom Pastor, ficou claro que os dirigentes não estavam interessados em acolher a luz, a serem curados de sua cegueira. Preferiram continuar nas trevas da sua autossuficiência e de sua prática de exclusão, de banimento dos pobres (cf. Jo 9,39-41). O texto do Evangelho de hoje (Jo 10,1-10), está dividido em duas partes, ou em duas parábolas. Na primeira (cf. Jo 10,1-6), Jesus se apresenta como “o Pastor”. Sua ação se contrapõe a dos dirigentes judeus que tinham o dever de pastorear o “rebanho”. Há muito haviam deixado de serem pastores e eram “ladrões e salteadores”. Hoje, em nossa cultura urbana, a imagem do pastor pouco ou nada diz. Para bem compreender a parábola, convém olhar para as autoridades de hoje: prefeito, governador, presidente, ou também os dirigentes religiosos…. Jesus não usa meias palavras para os dirigentes de então: “são ladrões e bandidos” (cf. Jo 10,1). Eles se servem das suas funções para explorar e roubar o povo. Governam de forma ilegítima, porque Deus não lhes confiou essa missão: “não entraram pela porta”. Assumiram a função de forma corrupta, experiência que estamos vivendo com nossos governos. O seu objetivo não é o bem das “ovelhas”, mas o próprio interesse e da forma mais perversa . Ao contrário, Jesus é “o Pastor” que “entra pela porta”. Significa que ele tem o mandato de Deus e a sua missão foi-Lhe confiada pelo Pai. Ao apresentar-se como Aquele “que entra pela porta”, com autoridade legítima, Jesus é o enviado por Deus para conduzir o povo e guiar para as “pastagens”, onde há “vida em plenitude”. Ele entra no redil das “ovelhas” para cuidar delas, não para as explorar (cf.Jo 10,1-2).  Para exercer sua missão, ele “chama as ovelhas pelo seu nome”, conhece cada uma e com cada uma tem relação pessoal de amor, de proximidade, de comunhão. Ele as conduzirá “para fora” (v 3), ou seja, para fora deste sistema de morte. Pois sua missão é cuidar para que “todos tenham vida” (10,10). Na segunda parábola (cf. Jo 10,7-9), Jesus apresenta-Se como “a porta”. Ele já não é o pastor que passa pela porta, mas “a porta”. Ninguém pode ir ao encontro das “ovelhas” se não tiver um mandato de Jesus, se não tiver os mesmos sentimentos, a mesma atitude de Jesus. Quanta luz e quanta denúncia à forma de governo dos tempos atuais! .  Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ