IRMÃ MARIA PIA BURCICK – 20/05/2020 Parte para junto de Deus!

21/05/2020

Biografia de Irmã Maria Pia

Frances Anna Burcicki

 25/08/1938    + 20/05/2020

Irmã Maria Pia, que no batismo recebeu o nome de Frances Anna Burcicki, nasceu na cidade de Detroit no Estado de Michigan nos Estados Unidos da América, no dia 25 de agosto de 1938. Filha única do casal John Burcicki e Nettie Burcick. Desde pequena, teve contato com Irmãs, pois estudava num colégio onde as mesmas eram suas professoras até o oitavo ano. Tinha grande admiração e carinho pelas Irmãs e gostava de ajuda-las no trabalhos da igreja. Quase todos os dias, após as aulas, ela ia até a Igreja para ajudar a irmã sacristã a arrumar para a Missa. Fazia isso porque já sentia dentro de si o forte desejo de ser irmã. Quando disse à sua mãe que queria ir para o convento, esta prontamente lhe deu todo apoio, apesar de ser a filha única.

Irmã Pia Irmã Maria Piaingressou no Aspirantado na Congregação das Irmãs Franciscanas de São José, Convento Imaculada Conceição, de Hamburgo – Nova York no ano de 1952. Em janeiro de 1954 ingressou no Postulantado e no mesmo ano tornou-se noviça, recebendo o nome de Irmã Maria Pia. Fez a sua Primeira Profissão Religiosa no ano de 1957 e os Votos Perpétuos em 1959. Durante os primeiros anos de Vida Religiosa trabalhou como professora e colaborou com as atividades da Secretaria da Escola. Neste período também, cursou a faculdade.

Em meados de 1965, a Superiora Geral da sua Congregação de origem pediu Irmãs voluntárias para o trabalho missionário no Japão e no Brasil. Irmã Pia logo se prontificou para vir ao Brasil. No mês de dezembro de 1965, com grande coragem e alegria, ela e mais três Irmãs da Congregação partiram rumo ao longínquo Brasil. A viagem de navio durou um mês. Chegaram em janeiro de 1966 e o primeiro desafio foi aprender a língua portuguesa. Inicialmente permaneceram por três meses em Petrópolis – RJ, para aprender a nossa língua. Teve bastante dificuldade de aprender o português. Quando terminou o curso, passou a dar aulas de alfabetização para adultos e assim foi aperfeiçoando o português na convivência com o povo. Diante dos desafios, nunca lhe faltou a fé e a certeza da assistência divina. Dizia: Deus é tão bom! Sempre me ajudou a todo o tempo!

Irmã Pia deixou por escrito, quando celebrou os seus 60 anos de Vida Religiosa, em 2017: “Gosto muito do meu trabalho com o povo e amo ser religiosa. Tenho consciência de que o povo gosta de mim porque sou religiosa. Se não fosse, não iriam confiar tanto em mim. Gosto muito de ficar na frente do sacrário e conversar com Jesus que me dá toda a força e paz. Também costumo olhar para o Crucificado e lembrar o quanto Ele me ama e penso quanto devo amá-Lo. Agradeço as duas Congregações das Irmãs Franciscanas de São José – a primeira que me acolheu e me deu a formação inicial, educação, amizade e a oportunidade de vir trabalhar como missionária no Brasil e a segunda que me acolheu aqui em Rio Verde, a partir do ano 2000, onde eu confirmei os meus votos em 2004 e continua me acolhendo e me oferecendo irmãs para conviver e partilhar a vida comigo. Principalmente agradeço a Deus por meus 60 anos de Vida Religiosa, onde Ele me ama e ainda me forma”.

Gostaríamos de relatar um pouco da caminhada de Irmã Maria Pia aqui em Rio Verde, servindo-nos das palavras do ex Deputado Estadual, Padre Ferreira, proferidas na solene sessão de entrega do título de cidadã goiana à Irmã Pia, no dia 09 de setembro de 2003:

“Quem quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e cada dia me siga”. “Todo aquele que deixar sua família e seus bens e me seguir, receberá cem vezes mais e a vida eterna”. “Quem quiser ser o maior, que seja o servo de todos”. “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância”. Para Irmã Pia essas palavras de Jesus não eram somente palavras abstratas ou poéticas, mas um ideal de vida perseguido com radicalidade. Palavras que se tornaram realidade na existência de uma pessoa que deixou o conforto material de uma nação de primeiro mundo, para vir servir o povo de Deus, no interior do Brasil. Chegando ao Brasil, primeiramente para o Rio de Janeiro, deparou-se com o primeiro obstáculo: aprender a língua portuguesa. Seu esforço já se tornou expressão de dedicação e linguagem do desejo de servir.

Em 1966, Irmã Pia, juntamente com as Irmãs Marta, Emília e Robertina foram designadas para trabalhar no município de Rio Verde – GO. Alguns anos depois, recebeu notícias de que sua mãe estava enferma e precisando de sua assistência. Com dor no coração, mas consciente de sua missão de filha única, voltou aos Estados Unidos, permanecendo lá até o falecimento de sua mãe. Após este momento de dor, Irmã Pia retornou ao Brasil, indo novamente para o sudoeste goiano. Com morada fixa em Rio Verde, prestou relevantes serviços no Município de Castelândia e nos Distritos de Riverlândia e Lagoa do Bauzinho, ministrando cursos de formação cristã e coordenando inúmeras outras atividades pastorais de cunho religioso e social.

Entre os anos 1990 a 1992 morou e trabalhou em Ouroana, onde se tornou querida de todos. Depois disso, voltou a Rio Verde. Ao lado do saudoso Bispo Dom Miguel Pedro Mundo, atuou inicialmente na Igreja de São Sebastião, na Paróquia de Nossa Senhora das Dores. Posteriormente na Paróquia Santo Antônio de Pádua. A partir de 1994, suas atividades missionárias foram direcionadas para a Paróquia São Vicente de Paula, onde permaneceu trabalhando até o ano de 2013. A partir de então, passou a colaborar em várias atividades na Paróquia Santo Antônio e demais paróquias vizinhas.

Dedicando-se com afinco na organização dos encontros de casais com Cristo, Irmã Pia via na família a principal fonte de todos os princípios da sociedade. Não media esforços em acompanhar os encontros e visitar os casais em suas casas, especialmente os que em crise, precisavam de seu apoio, preces e orientação. Destacou-se na organização de comunidades, alicerçadas na fé e na ação evangelizadora. Sempre deixava marcas fortes da sua presença humilde e silenciosa nos encontros de formação de lideranças, nos cursos de pais e padrinhos, na formação de Ministros da Comunhão e muito particularmente nos encontros de casais.

Irmã Pia foi uma incentivadora dos ministérios leigos, pois tinha clareza de que a comunidade não depende só do esforço do sacerdote e da religiosa, mas de todos os batizados que dela participam. Tinha um amor de predileção por aqueles que vivem em condições subumanas, buscando soluções e meios de ajudá-los junto à comunidade e lideranças políticas que tinham meios de resolver determinadas urgências, tanto de infraestrutura, como de moradia e outras necessidades. Ela, como ninguém, soube acreditar na força da comunidade, na solidariedade e na presença de Deus em cada irmão que ela conquistava por onde passava.

Para Irmã Pia, morar no Brasil, especialmente em Goiás, não foi fruto do acaso, mas uma missão confiada por Deus que foi transformando o seu ser, a ponto de se tornar inseparável duas paixões: paixão pelo seguimento de Jesus Cristo e paixão pelo povo goiano. Soube fazer isso envolvida de simplicidade; procurou com todas as suas forças servir a Deus, transmitindo simpatia, amor fraterno, gentileza, sensibilidade, acolhida e total dedicação, especialmente aos mais humildes e excluídos da sociedade.

Como escreve o Apóstolo Paulo: “em vasos de barro estava escondida uma grande riqueza”. Sua riqueza era se abdicar de si mesma e de tudo, para se inculturar no meio do povo, assumindo na própria carne a dor e os sentimentos da família brasileira, compartilhando de suas angústias e esperanças.

Ao longo dos seus 63 anos de vida religiosa consagrada, Irmã Pia se tornou um instrumento de paz e alegria, transformando a aridez de muitos corações, em terreno fértil de solidariedade, de amor a Deus e compromisso social.

Todos estes trabalhos tornaram a marca desta missionária estrangeira, cada vez mais brasileira, cada vez mais goiana. Embora seu sotaque lembrasse suas origens, seu coração era todo brasileiro. Soube enfrentar com valentia evangélica todas as barreiras culturais, regionais e materiais que separam o nosso País daquele onde ela nasceu, para levar ao maior número possível de pessoas a Palavra e os ensinamentos de Deus, contribuindo com a melhoria da sociedade goiana, lutando por mais oportunidades para todos, particularmente os mais excluídos”.

Quem foi a Irmã Maria Pia para as Irmãs Franciscanas de São José, do Brasil: coincidência ou providência divina? Não importa. O que sabemos é que no ano 2000, por conta de um acidente sofrido por uma de nossas Irmãs que moravam em Aporé, tivemos a graça de conhecer a Irmã Maria Pia, aqui em Rio Verde, porque a nossa Irmã recebeu os primeiros atendimentos no Hospital de Rio Verde. Ao procurarmos um lugar para ficar, para poder cuidar da Irmã hospitalizada, tivemos a graça de sermos acolhidas pela Irmã Pia e pela ex-Irmã Marizete Coelho. A partir de então, iniciamos um processo de amizade e de comunhão fraterna. As Irmãs nos contaram a situação delas em Rio Verde e, então, começaram-se as negociações para estas Irmãs pudessem passar para a nossa Congregação, visto que a Congregação de origem da Irmã Pia não tinha mais condições de manter a presença delas em Rio Verde. Elas estavam sendo chamadas a retornar ao Estados Unidos. Coincidentemente nossa Congregação tinha o mesmo nome e o mesmo carisma da Congregação das Irmãs nos Estados Unidos. Tudo isso favoreceu esta proximidade e esta passagem. Na verdade, pouco mudou para a vida consagrada de Irmã Pia, pois ela continuou a sua missão em Rio Verde, como vinha fazendo desde 1966, quando veio pela primeira vez ao Brasil. A partir de 2001 a Congregação das Irmãs Franciscanas de São José, do Brasil, assumiu a Fraternidade Paz e Bem de Rio Verde, e desde então, vieram Irmãs para cá, para compor a Fraternidade e contribuir com os trabalhos pastorais na Paróquia São Vicente de Paula, até 2013 e posteriormente em outras paróquias e diocese.

O que aprendemos na convivência com a Irmã Maria Pia: para nós, ela foi uma Irmã que, como mãe acolhia e cuidava com amor de todas as Irmãs que vinham fazer parte da Fraternidade Paz e Bem. Sempre alegre, muito disposta e pronta para servir, tanto as Irmãs como o povo. Ensinava e recomendava às Irmãs que, ao preparar a alimentação, deveriam cozinhar um pouco a mais, para servir aos pobres, moradores de rua que diariamente batiam à porta, em busca de um prato de comida. Além disso, distribuía cestas básicas que ganhava para as famílias carentes. Sempre muito preocupada com os menos favorecidos. Tinha um coração gigante. Nele cabia a todos, desde os mais pequeninos até os idosos e indefesos que ninguém se importava. Andava pelas ruas e comunidades de Rio Verde e era conhecida de todos. Era a “mãe de Rio Verde”. Viu a cidade crescer, pois quando chegou aqui, em 1966, quase não tinha nada. A casa das Irmãs era uma das únicas da Av. Presidente Vargas. Acompanhou com atenção a sua evolução, sempre procurando dar a sua contribuição, para que a Igreja não ficasse para traz no processo de crescimento, lutando para que em cada bairro tivesse um espaço para uma igreja; ajudou a formar comunidades.

Nestes 20 anos de convivência com a Irmã Pia pudemos presenciar o testemunho de uma Irmã com alma missionária; ancorava toda a sua vida consagrada e sua missão no Senhor, presente na Cruz e no Sacrário. Nutria especial devoção também a Jesus Misericordioso e a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Passava muitos momentos na capela, em oração, haurindo Dele a força, a paz, a alegria que transmitia a todos. Por mais atividades que tivesse pela frente, nunca fazia as coisas com agitação. Era calma e serena. Valoriza a convivência com as pessoas, mais do que muitos afazeres. Quando ia aos encontros, não falava muito, pois sua presença dispensava as palavras. Era uma pessoa de Deus e o levava por onde passava.

Muito obrigada, Irmã Pia, pela sua fidelidade e vida doada a Deus e aos irmãos e irmãs. Obrigada pelo seu espírito de oração, seu jeito fraterno de ajudar, seu testemunho de vida autêntica. Foi muito bom tê-la como nossa Irmã. Lá do céu, olhe por nós, suas coirmãs, por seus familiares e todo o povo que teve a graça de conviver com a senhora, particularmente as famílias, os casais, os doentes, os pobres e necessitados. Peça a Deus que continue chamando muitas jovens para o serviço da Misericórdia, em nossa Congregação. Agora que a senhora já está junto do doador de tudo. Contamos com a sua poderosa intercessão para que, também nós, sejamos fiéis cumpridoras da parte que nos cabe, na construção do Reino de Deus aqui na terra. Irmã Pia, ter o privilégio de partir para a Casa do Pai dentro do tempo pascal, é um dom especial. Que junto ao Ressuscitado, a senhora possa gozar da Paz Eterna e receber a recompensa por tudo o que realizou neste tempo em que esteve na terra.

Descanse na Glória e na Paz do seu Senhor Ressuscitado!