18º DOMINGO DO TEMPO COMUM

30/07/2020

Esse lugar é deserto – Mt 14,13-21 – O Evangelho do 18º Domingo do Tempo Comum apresenta-nos a ação de Jesus logo após o assassinato de João Batista (cf Mt 14,9-12), o profeta precursor,  que foi eliminado assim como farão com Jesus. Na introdução ao episódio de hoje, Mateus informa que Jesus se retirou para o deserto. O assassinato do profeta Batista leva a buscar mais intensamente o divino e discernir os acontecimentos. Mas Jesus foi seguido por uma “grande multidão”. Impressionado pela fome de todo esse povo “encheu-se de compaixão e curou os seus doentes” (vv. 13-14). O deserto é, para Israel, o tempo e o espaço do encontro com Deus. O deserto foi o espaço onde Israel aprendeu a libertar a “cabeça e o coração” uma vez que as “mãos e os pés” tinham sido libertados na saída do Egito. No deserto o povo aprendeu a partilhar o poder e a comida, a saciar a sede e não murmurar, a confiar no “pão de cada dia”, a viver em tendas e peregrinar, estando sempre “em saída”. Tudo é um dom de Deus e tudo deve ser acolhido com o coração agradecido. O deserto é ainda o lugar e o tempo da igualdade e da solidariedade, onde não há lugar para egoísmo e a injustiça, a autossuficiência e a ganância. No deserto, quem é egoísta, auto referencial e não aceita contar com os outros, está condenado à morte e contribui para a morte dos outros. A experiência do deserto revela as sementes do Reino e do anti-reino. Na atual pandemia do coronavírus, temos a oportunidade de fazer a experiência de “deserto”, com todos os seus aprendizados e seus pecados. Vivemos a partilha e a solidariedade, o cuidado uns dos outros, mas também murmurações e prepotências, autossuficiência e ganância.  Na narrativa da “multiplicação dos pães”, Jesus retoma, de forma concreta, a experiência do deserto e ensina a partilhar e a viver com um coração agradecido.  O primeiro momento desse processo é constatar a fome do povo. Para isto é fundamental cultivar a sensibilidade. Os discípulos pedem a Jesus que mande a multidão embora, para que ela encontre comida. A falta de sensibilidade e solidariedade dos discípulos reproduz os pecados do deserto. Mas Jesus exige outra atitude: “dai-lhes vós de comer” (v. 16). A dinâmica do Reino passa pela participação e solidariedade de todos. Em seguida, Jesus ensina como exercer a solidariedade dos pobres com os pobres: pede aos discípulos que verifiquem os bens disponíveis. Tudo o que há são “cinco pães e dois peixes”. É pouco, muito pouco para saciar a fome de uma “multidão”.   Mas “cinco pães e dois peixes” significam totalidade: “sete”. Não se trata de quantidade, mas de atitude frente aos bens.  Na dinâmica do Reino, a totalidade dos bens são dons a serviço da vida. Ter um coração agradecido e reconhecer que tudo é dom, liberta para a abundância. Jesus toma os bens disponíveis, “recita a bênção” e manda repartir para todos… “Tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao céu e recitou a bênção” (v. 19).  E todos comeram até ficarem saciados….  Isto ocorreu num “lugar deserto”. Assim, no atual deserto, no qual a maior parte de humanidade está mergulhada, é possível saciar a fome do povo faminto, fazendo a opção por uma nova ordem mundial, conforme o Papa Francisco tanto conclama. Só uma “compaixão mundial” é capaz de fazer germinar as novas  sementes do Reino. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ