24º Domingo do TC

09/09/2020

Um amor sem cálculos – Mt 18,21-35 – O Salmo responsorial nos introduz no clima do Evangelho deste 24º Domingo: O Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade. De fato, o Evangelho revela-nos um Deus cheio de bondade e de misericórdia que derrama sobre nós, de forma total, ilimitada e absoluta, seu “amor sem cálculos”, o seu perdão sem limites. Continuamos no capítulo 18 de Mateus, lendo o “discurso eclesial”. São “instruções” de como viver os valores do Reino de Deus, em comunidade. Por detrás do texto deste dia podemos perceber que há uma comunidade com tensões e conflitos, com ofensas pessoais e muita dificuldade de perdoar. Conflitos, em si, são possibilidades de encontrar novos caminhos, porém por vezes, são causadores de agressões e humilhações, que levam a pessoa ofendida a se fechar, quando não, a ser tomada pelo rancor. O mandamento do perdão não era  novo no tempo de Jesus. Em Israel já se ensinava perdoar as ofensas e a não guardar rancor contra o irmão que tinha cometido falhas. Aos poucos, os “mestres” de Israel foram reduzindo este perdão a um grupo restrito. Mesmo assim, ainda se discutia o número de vezes em que se devia perdoar. Muitos tinham a compreensão da necessidade do perdão, mas perdoar indefinidamente, isto não era concebido. É nesta problemática que Jesus é envolvido pelos discípulos. Pedro, o porta-voz da comunidade, consulta Jesus acerca dos limites do perdão. Pergunta a Jesus se se deve perdoar “sempre”, ou seja, até “sete vezes?” O número “sete”, na cultura semita, indica “totalidade”. Jesus responde que não só se deve perdoar sempre, mas de forma ilimitada, total, absoluta, sem cálculos. É neste contexto e nesta lógica do perdão que Jesus propõe aos discípulos a parábola que segue (vv. 23-35). Uma narrativa em três cenários: O primeiro (vv. 23-27) coloca-nos diante de um funcionário real que, na hora de prestar contas ao seu senhor, revela-se incapaz de saldar a sua dívida que é muito grande. O exagero da dívida serve, aqui, para pôr em relevo a misericórdia infinita do senhor. A segunda cena (vv. 28-30) descreve como esse funcionário, que experimentou a misericórdia do seu senhor, se recusou a perdoar a uma pequena divida de um companheiro. Há uma desproporção entre as duas dívidas e uma diferença de atitudes e de sentimentos entre o senhor, que perdoa infinitamente, e o funcionário, incapaz de aderir à lógica do perdão. E desta diferença de comportamentos e de lógicas temos o terceiro cenário (vv 28-35): os outros companheiros do funcionário real, chocados com a sua ingratidão, informaram o rei do sucedido. O rei, escandalizado com o comportamento do seu funcionário, castigou-o duramente. Temos aqui imagens fortes e dramáticas, do jeito semita, para mostrar que a lógica do perdão é urgente e dela depende a construção do Reino. Por mais que esta atitude nos perturbe, a parábola é uma “instrução” sobre a misericórdia de Deus. Mostra como, na perspectiva de Deus, o perdão é ilimitado, total e absoluto, é um “amor sem cálculos”. Se o nosso coração não bater segundo a lógica do perdão, não terá lugar para acolher a misericórdia, a bondade e o amor de Deus. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ