4º Domingo do Advento – 20/12/20

17/12/2020

“Faça-se em mim segundo a tua palavra”  –  Lc 1,26-38 – O evangelho deste domingo é muito conhecido. Nas principais festas marianas, a Liturgia oferece esta narrativa como luz que ilumina e alimenta nossa fé. Nos três domingos do Advento, a voz da profecia se fez ouvir, conclamando a ”preparar os caminhos do Senhor”. Neste quarto domingo somos surpreendidas/os pela visita do Anjo Gabriel, que se dirige a uma jovem pobre, da aldeia de Nazaré, anunciando a encarnação de uma pessoa divina, para a salvação da humanidade. Esta encarnação depende do sim de Maria. O texto que nos é proposto para o 4º domingo do Advento pertence ao “Evangelho da Infância” na versão de Lucas. De acordo com os biblistas atuais, os textos do “Evangelho da Infância” pertencem a um gênero literário especial. Não pretende ser um relato jornalístico e histórico de acontecimentos, mas busca proclamar certas realidades salvíficas que superam o tempo e o espaço, ou seja, vão muito além do nosso entendimento racional. O estilo literário é de narração, mas recorre a uma técnica de leitura e de interpretação do texto sagrado usada pelos mestres judeus da época de Jesus. Tecnicamente se chama midrash. Este estilo literário utiliza e mistura fatos e pessoas do Antigo Testamento com fatos e pessoas do Novo Testamento. Devemos entender esta narrativa a partir deste gênero literário. Não interessa procurar fatos históricos. O importante é compreender o que o Evangelista quer revelar sobre Jesus. O cenário é a aldeia de Nazaré, situada na Galileia. A Galileia era considerada, pelos judeus, a “região das trevas”, a “Galileia das nações”, uma vez que ali se praticava uma religião influenciada pelos costumes e tradições pagãs. Os mestres judeus de Jerusalém diziam que “da Galileia não pode vir nada de bom”. Pior ainda era Nazaré: uma aldeia pobre e ignorada, nunca nomeada na história religiosa judaica. Logo, completamente fora dos caminhos de Deus e da salvação. Na nova ordem, Nazaré vai se tornar o centro do mundo e não Jerusalém ou Roma. Esta é a lógica divina. Maria, a jovem de Nazaré, personagem central da narrativa, era “uma virgem desposada com um homem chamado José”. Conforme os costumes hebraicos, os dois haviam assumido o a 1ª etapa do compromisso matrimonial, mas não se havia celebrado o compromisso definitivo. O diálogo entre Maria e o anjo é cheio de surpresas e se desenvolve de maneira muito simples, feito de ressonâncias do AT. Olhar estes detalhes exigiria texto maior, o que seria de muita riqueza. Mas em síntese, se pode dizer que Maria é figura que congrega todo o sonho do Antigo Testamento. Nela se incorpora toda a utopia de um povo, suscitada por Deus. O relato termina com a resposta final de Maria: “eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”. Afirmar-se como “serva” é muito mais do que humildade, como quase sempre se afirma. Ser “serva do Senhor” é reconhecer-se como escolhida por Deus para uma missão, uma missão conduzida por Ele. Maria se coloca a serviço do Senhor e declara sua total disponibilidade para que nela se realize o projeto de Deus. “Faça-se em mim segundo a tua Palavra”. Uma grandeza que nossa fragilidade não alcança nem sequer compreender. Cabe-nos um silêncio contemplativo… Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ