6º Domingo do Tempo Comum – 14/02

10/02/2021

“Se queres, podes curar-me”. – Mc 1,40-45 – A liturgia do 6º Domingo do Tempo Comum nos coloca mais uma vez na caminhada de Jesus de anúncio e realização do Reino de Deus. Nestes últimos domingos acompanhamos Jesus em seu itinerário missionário: a) chamando discípulos (Mc 1,14-20), b) entrando na sinagoga, ensinando e expulsando demônios (1,21-28),c)  entrando na casa de Pedro e curando a mulher doente, bem como realizando muitas curas e concluindo seu dia exaustivo em noite de oração (1,29-39). Neste 6º domingo do TC, último antes da quaresma, Jesus, segundo a narrativa de Marcos, como que conclui esta “primeira jornada”, realizando um gesto muito significativo, que constitui uma verdadeira “chave de ouro” de todo o Evangelho. Sem informar o lugar, o cenário é um encontro entre Jesus e um leproso. A situação social e religiosa do leproso está descrita na primeira leitura deste domingo (cf.Lv 13,1-2.44-46). Para a religião oficial, o leproso era um pecador, um amaldiçoado por Deus. Era excluído da comunidade e não podia frequentar a assembleia do Povo de Deus. Tinha que viver isolado, apresentar-se com vestes rasgadas e avisar, aos gritos, o seu estado de impureza, a fim de que ninguém se aproximasse dele. Era símbolo da total marginalização. Maior exclusão não existia. Eis que “um leproso” vem “ter com Jesus”. O desejo de sair da situação de miséria e de marginalidade faz vencer o medo de transgredir a Lei e ainda ser punido. E ele se aproxima de Jesus, sem respeitar o “distanciamento social”, diríamos hoje, a que estava submetido. Uma vez diante de Jesus, “prostrou-se de joelhos e suplicou-lhe: “Se quiseres, podes curar-me”. (v.40). O evangelista não deixa fora um detalhe: “de joelhos”. Quem conhece esta doença sabe que, muitas vezes, os joelhos se enchem de feridas. Podemos imaginar o gesto….. E o que ele pretende não é apenas “ser curado”, mas quer ser “purificado”. Quer o resgate pleno de sua dignidade, de sua inserção social e religiosa. A reação de Jesus, para os padrões judaicos, é inadmissível. Em vez de se afastar do doente, acusá-lo de violação da Lei, Jesus olha-o “compadecido, estende a mão e toca-lhe’ (v 41). O verbo “compadecer-se”, no NT, é aplicado somente a Deus e a Jesus, com exceção da parábola do “bom samaritano” (cf Lc 10,29-37), onde o mesmo verbo é atribuído ao samaritano. “Compadecer-se”, sentir compaixão, ter um coração alargado, expressa a ternura de Deus pela humanidade. Jesus é a ternura de Deus presente no mundo, uma ternura que se “aproxima”, “estende a mão”, que “toca” nas feridas da humanidade. Ao “tocar” assim nas “impurezas”, ele se torna “impuro”, segundo a religião oficial. Mas o gesto de Jesus é uma denúncia da Lei que gera tais formas de marginalização e de exclusão. A purificação do leproso significa, também, a ruptura da teologia oficial que o considerava um maldito. Ele não é impuro, amaldiçoado e abandonado por Deus. Ele é uma vítima de um sistema que cultiva um “espírito mau”, que Jesus tanto se empenha em expulsar, e ordena aos discípulos, enviados em missão, que “expulsem demônios” (cf Mc 3,15; 6,7.13). Após a cura e purificação do leproso, Jesus recomenda-lhe que não diga nada a ninguém (v. 44), mas que vá mostrar-se aos sacerdotes (v. 44), para ser reintegrado na comunidade religiosa. O texto termina  dizendo que o leproso purificado “começou a apregoar e a divulgar o que acontecera”  e que “Jesus não podia entrar publicamente na cidade; permanecia fora em lugares desertos” (v. 45). O evangelista não explica a razão deste “afastamento” de Jesus. Seria pelo excesso de fama? Mais parece ser um retirar-se para evitar maiores conflitos, pois “tocou num leproso”, está “impuro” e , segundo a tradição judaica, deve ir ao templo para a purificação. E Jesus não vai ao templo. Fica na Galileia.  Parece fazer uma espécie de “quarentena”, sem deixar de cumprir sua missão: “de toda a parte vinham procurá-lo” (v 45). “Em nome de toda a humanidade, digamos neste domingo junto com o leproso” (COVID) de nosso tempo: “Senhor, se queres, podes curar-me”.  Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ