1º Domingo da Quaresma – 21/02

17/02/2021

“Quarenta dias no deserto” – Mc 1,12-15 – No primeiro Domingo da Quaresma, a liturgia nos mostra o caminho a seguir para vencer o mundo do egoísmo e do ódio, e construir um mundo novo de vida, paz e justiça. No Brasil, a Igreja faz o grande convite da CF com o tema: “A Fraternidade e diálogo: compromisso de amor” e o lema: “Cristo é nossa Paz: do que era dividido fez uma unidade”. As polêmicas geradas em torno desta campanha de 2021 revelam a necessidade de um profundo empenho para resistir às tentações de satanás, das quais nem Jesus esteve livre. Olhemos mais de perto o breve Evangelho deste dia. Marcos apenas afirma que Jesus foi tentado, enquanto Mateus relata três tentações, com argumentos a partir da Palavra de Deus. O demônio se apresenta como um amante e conhecedor da Palavra. Como hoje, as tentações diabólicas estão revestidas de sentido religioso. Marcos, após uma breve introdução ao Evangelho, no qual apresenta a atuação do precursor (1,4-8), e informa que Jesus foi batizado e declarado “filho amado do Pai” (1,9-11), afirma que “o Espírito Santo impeliu Jesus para o deserto” (v.12). No deserto esteve “quarenta dias sendo tentado por Satanás” (v. 13). A tentação parece não ser um ato isolado, mas uma permanente tentativa de desviar do caminho. Mais do que uma descrição histórica de acontecimentos concretos, trata-se de um ensinamento revelador, expresso em linguagem simbólica. O deserto, na teologia de Israel, era o lugar privilegiado do encontro com Deus. Foi no deserto que o Povo experimentou a misericórdia e o cuidado de Jahwéh e foi no deserto que Jahwéh propôs a Israel uma Aliança de amor. Contudo, o deserto foi também o lugar da “prova”, da “tentação”. Foi no deserto que Israel foi tentado a  escolher caminhos contrários aos propostos por Deus. O “deserto” para onde Jesus “vai” é, portanto, o “lugar” do encontro com Deus e discernimento de sua vocação. É também o “lugar” da prova, onde Jesus foi tentado a abandonar Deus e de seguir outros caminhos.
Nesse “deserto”, Jesus ficou “quarenta dias” (v. 13a). O número “quarenta” é igualmente simbólico: pode recordar os 40 anos de caminhada do povo, como também pode significar “toda a vida” de uma pessoa. Durante esse tempo, Jesus foi “tentado por Satanás” (v. 13b), o “espírito mau” que seguirá se opondo a Jesus, como vimos em domingos anteriores. O evangelista ainda nos fornece um detalhe ausente nos demais Evangelhos: “vivia entre as feras e os anjos o serviam” (v. 13c). É provável que seja uma referência ao “princípio”, quando se afirma que Adão, o primeiro homem, vivia no paraíso, em paz completa com todos os animais e que os anjos estavam à sua volta e o serviam. A vinda de Jesus é o regresso à harmonia inicial, ao plano original de Deus para a humanidade e para o mundo. Chegou o tempo messiânico de paz sem fim, chegou o tempo de o mundo regressar a essa harmonia que era o plano inicial de Deus. São “quarenta dias no deserto”, ou seja, uma “quarentena”. Em outras palavras, toda a existência de Jesus neste mundo foi confronto entre ser o “novo Adão”, que restaura tudo e todos, ou seguir o Adão decaído, que gera a desordem total, que gera a “pandemia do ódio”. É o confronto da Igreja hoje. Estamos sendo testados em sermos seguidores do Evangelho, ou nos deixar guiar por doutrinas revestidas do “espírito mau”, do ódio e da vaidade, que ceifam muitas vidas.  A Campanha da Fraternidade do Brasil tem revelado novas formas deste confronto. Mas o lema da mesma Campanha está em continuidade à opção de Jesus: “Cristo é nossa Paz: do que era dividido fez uma unidade”. Os “quarenta dias de deserto”, nossa “quarentena quaresmal” de 2021, quer ser uma oportunidade do retorno à “convivência com as feras e de anjos servindo”, pois a harmonia original precisa ser restaurada. É o que Jesus começa a fazer em seguida. (vv14-15)Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ