Saboreando a Palavra

28/08/2018

“Seu nome é João”– Lc 1,57-66.80 – O 12º Domingo do TC, neste ano, coincide com a festa da natividade de João Batista. É uma das poucas festas em que se comemora o dia do nascimento do santo e não o de sua morte. Celebra-se o dia do nascimento somente de Jesus, de Maria e de João Batista. O Evangelho deste dia nos traz a narrativa da infância de João Batista, com apenas um pequeno aceno ao seu nascimento e uma longa cena (v. 59-66) sobre a sua circuncisão e o seu nome. O texto gira em torno do nome do menino: “a mãe, porém, disse: não! Ele vai chamar-se João” (1, 60). Um nome que faz eco a um outro nome, aquele de Jesus. O mesmo fez Zacarias: “Zacarias pediu uma tabuinha, e escreveu: João é o seu nome” (1,63). Sabemos que os nomes dos personagens bíblicos são ricos em significados e, inclusive, alguns tiveram o nome mudado pelo próprio Deus. Muitas vezes o nome indicava uma missão. O nome João tem sua origem etimológica direta na língua hebraica: Yôḥānān, que podemos traduzir mais livremente como: “Deus mostrou favor ou Deus foi clemente”. Após confirmar o nome e a missão do filho, Zacarias como que conclui a liturgia que iniciara no Templo, no momento da anunciação e que foi interrompida com sua mudez. Agora volta a falar e “começou a louvar a Deus” (v.64). Zacarias volta a ser o celebrante! Não mais no Templo, no sistema dos sacrifícios, mas da boa nova que seu filho prenuncia. Após o belo canto de Zacarias (1,67-79), o primeiro capítulo de Lucas se encerra com a informação de que o Batista “crescia e se fortalecia” e que “vivia nos desertos” (1,80). Antes de falar da infância de Jesus (cf Lc 2), Lucas apresenta o precursor já adulto no deserto. A história de João iniciada no Templo continua agora no “deserto”, lugar sem vida, mas também, lugar da escuta da Palavra de Deus. João é o último dos grandes profetas do AT ou o primeiro do NT. Sua profecia gera impacto e é muito difícil de ser bem compreendida. O Batista proclama penitência, fala com palavras causticantes e, de repente, vem Jesus e parece falar o contrário: misericórdia, amor, fraternidade, paz… O conteúdo do discurso de Jesus desconcerta o Batista. Não é sem razão que ele, na prisão, manda perguntar a Jesus: “és tu aquele que devia vir, ou devemos esperar outro”? (Mt 11,3). A misericórdia de Jesus põe em cheque a denúncia de João Batista. Porém, olhando mais atentamente podemos dizer que a missão profética de João e de Jesus formam uma única missão em dois tempos que se completam. Mas João Batista veio primeiro e foi aquele que acordou os seus contemporâneos para a vinda de Jesus e, até com a sua “paixão e morte‟, foi o precursor da Páscoa de Jesus. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ