17º Domingo do tempo Comum

22/07/2021

“Estava próxima a Páscoa” – Jo 6,1-15 – A liturgia do 17º domingo interrompe a leitura do Evangelho de Marcos e, durante mais alguns domingos, seguiremos o sexto capítulo do Evangelho de João, que  apresenta Jesus como aquele que veio trazer VIDA e quer que todos tenham vida plena. Toda a rica teologia de João, do ponto de vista literário, é expressa em linguagem simbólica, na qual o AT toma cores e sabores novos.

No capítulo 6 João apresenta Jesus como o “Pão” que sacia a fome e a sede de vida que o ser humano sente. O episódio deste domingo tem como cenário “na outra margem” do Lago de Tiberíades. Em termos cronológicos, João informa que “estava perto a Páscoa, a festa dos Judeus”. Era a festa mais importante do calendário religioso judaico, pois celebrava a libertação do Povo de Deus da opressão do Egito. Esta festa devia ser celebrada em Jerusalém e todas as famílias procuravam estar lá nestes dias. No tempo de Jesus, a festa da Páscoa já não era uma memória da libertação do povo da escravidão do Egito. Transformara-se numa outra forma de escravidão, como se pode ler no relato da primeira Páscoa que Jesus participou em Jerusalém. Entra no Templo e expulsa todos que promoviam e ajudavam a manter a escravidão (cf Jo 2,13-22). Nesta Páscoa Jesus não foi, como em outras páscoas, (cf Jo 2,13-22; 11, 5; 12,1; 13,1), mas ficou na Galileia.

O relato da multiplicação dos pães é uma nova maneira de celebrar a Páscoa: a ação de Jesus é uma ação libertadora. O texto pode ser lido em paralelo com a narrativa da libertação da escravidão do Egito. Ele “vê” a multidão faminta e “ouve seu clamor”.

A informação cronológica de que “estava próxima a Páscoa, a festa dos Judeus” (v 4) é, certamente, uma importante chave de leitura para todo o relato:

 Inicia com uma referência ao “mar”, que pode recordar o Mar Vermelho.

Tanto Moisés como Jesus são acompanhados por uma “grande multidão”. A multidão que segue Jesus quer ver os “sinais” que Ele realiza, sinais de libertação de todas as formas de escravidão: fome, doenças, exploração. A libertação do Egito se deu após a realização de muitos “sinais”.

João diz que Jesus “subiu a um monte” (v 3), uma informação que faz eco ao Monte Sinai, o monte da Aliança. O Povo da Aliança precisa celebrar a Páscoa conforme seu sentido originário.

A multidão que segue Jesus tem fome e “não tem o que comer” (vv. 5-6); mais outra referência ao processo de libertação, quando o povo que caminhava para a terra da liberdade, viveu  a fome e foi agraciado pela intervenção divina, com o maná. Doação generosa, mas que não se pode acumular. Quem guardou para o dia seguinte, “deu vermes e cheirava mal” (cf Ex 16,19s). Para Jesus, o pão que sobra da partilha deve ser guardado para novas partilhas.

Jesus pede a partilha de quem possui algo, mesmo que seja “um menino”, com “cinco pães de cevada e dois peixinhos”. O ‘menino” representa o pouco, o fraco, o pequeno, mas Jesus envolve toda a comunidade dos discípulos para dar comida ao povo faminto. Não são os cálculos econômicos, conforme o pensar de discípulos, que resolvem o problema da fome no mundo, mas é a partilha e a solidariedade humana que criam um mundo justo e fraterno.

Os números “cinco pães” e “dois peixes”: a sua soma dá “sete”, número que significa totalidade. Ė na partilha da totalidade que a libertação, a Páscoa, acontece e o projeto de Deus se realiza. Vida plena para todos, libertação de todas as injustiças e os dons divinos partilhados.

Alguns dos que viram o sinal querem fazê-lo rei (vv. 14-15). Jesus não aceita. O mundo novo que veio trazer tem sua lógica no serviço simples e humilde, que leva a partilhar a vida com os irmãos. Trata-se de um mundo novo onde não cabe o poder e o domínio, o acúmulo e a exploração.

Quem quiser acompanhar Jesus neste caminho, passará seguramente da escravidão do lucro para a liberdade da partilha, do serviço, do amor aos irmãos. Então estaremos celebrando a verdadeira Páscoa, a Páscoa dos cristãos…. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ