14º Domingo do Tempo Comum

01/07/2021

 “Carpinteiro” e “filho de Maria” – (Mc 6,1-6). Obs. Em muitas Igrejas celebra-se neste domingo a Solenidade de São Pedro e São Paulo. Outras celebram a festa no dia 29 de Junho. O texto evangélico da Solenidade, Mt 16,13-19, nos apresenta a confissão de Pedro  sobre a messianidade de Jesus, Filho de Deus (vv. 13-16) e a promessa do primado que Jesus confere a Pedro (vv. 17-19). Trata-se de um episódio decisivo no itinerário de Jesus e de qualquer discípulo.

Por ser uma continuidade do Evangelho de Marcos, no 14º domingo do tempo Comum, vamos buscar “saborear” a palavra desta narrativa e assim seguimos o ritmo do segundo Evangelho, que vai evidenciando quem é Jesus, pergunta feita aos discípulos, no texto da solenidade de São Pedro e São Paulo. Em Marcos, Jesus, o filho de Deus, se revela ao mundo na fraqueza e na fragilidade, na simplicidade e no anonimato, como se pode claramente perceber.

 O cenário do Evangelho é Nazaré. De acordo com Mc 1,9, Nazaré era a “terra” de Jesus. Trata-se de uma pequena vila da Galileia, situada há 22 Km ao oeste do Lago de Tiberíades. Sua povoação, tipicamente agrícola, nunca teve importância na história do judaísmo. O Antigo Testamento nem sequer a menciona. Nazaré, no entanto, é a aldeia onde Jesus cresceu e onde residia a sua família. O Messias se revela mesmo na periferia do mundo.

Chegando o sábado, como era seu costume, Jesus foi à sinagoga, desta vez acompanhado de seus discípulos e não de seus familiares. Como qualquer outro membro da comunidade judaica, fez uso do direito que todo o israelita adulto tinha: leu e comentou as Escrituras. O evangelista Lucas descreve este evento com mais detalhes (cf Lc  4,16-20). Marcos não diz qual foi o ensinamento dado, mas afirma que, naquele sábado, os habitantes de Nazaré ficaram impressionados com Jesus. Ele já havia impressionado muito positivamente os fiéis da sinagoga de Cafarnaum (cf. Mc 1,21-28). Mas os seus conterrâneos de Nazaré têm outra postura e só levantam questões: “de onde lhe vem tudo isto? Que sabedoria é esta que lhe foi dada? E os prodigiosos milagres feitos por suas mãos?” E as informações dadas pela vizinhança são muito significativas. Recordam o ofício de Jesus e a simplicidade de sua família. Para eles, Jesus é o “carpinteiro”, não é um “rabi”, não estudou as Escrituras com nenhum grande mestre e não tem qualificações para dizer as coisas que diz. Também conhecem bem a família de Jesus e nela nada há de extraordinário: Ele é o “filho de Maria” e os seus irmãos e irmãs são gente “normal”, que todos conhecem em Nazaré. Desde o primeiro momento, os comentários dos habitantes de Nazaré deixam transparecer um tom depreciativo sobre Jesus. Nem sequer o chamam pelo próprio nome. Ele é o “este”, ou “o “carpinteiro”, ou “o filho de Maria”“. Por vezes temos tais atitudes nas relações comunitárias. Não identificamos as pessoas pelos respectivos nomes. O nome é a identidade da pessoa. Dizendo ser Jesus “filho de Maria”, nós hoje pensamos ser título honroso, mas o costume judaico era referir a pessoa ao pai e não à mãe.

Marcos conclui que os habitantes de Nazaré ficaram “escandalizados” ou seja, “indignados”. Jesus era “comum” demais para ser levado a sério. Sua fama já tinha se espalhado, mas eles não viram nada mais, além do que estavam acostumados a ver. Jesus não está na tradição dos mestres do judaísmo e, então, seu ensinamento não pode vir de Deus.

A resposta de Jesus de que “um profeta só é desprezado na sua terra”, além de ser uma denúncia contra os seus, mostra que Ele se assume como profeta, ou seja, como enviado de Deus. Os seus ensinamentos não vêm dos mestres judaicos, mas do próprio Deus. Assim, rejeitando seus ensinamentos, rejeitam o próprio Deus.

Esta atitude dos seus conterrâneos impede que Ele realize ali os sinais de resgate da vida plena, missão para a qual fora enviado pelo Pai. Este fato decepcionante não impede, contudo, que Jesus continue a propor a Boa Nova do Reino a toda a humanidade. “E percorria as aldeias dos arredores, ensinando” (v 6). Um ensinamento para animar os discípulos dos tempos atuais, que vivem experiências muito similares as que Jesus viveu entre os seus… Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ