15º Domingo do Tempo Comum
Um homem segundo Deus – Lc 10,25-37 – Estamos já no décimo quinto domingo do Tempo Comum e a Sagrada Escritura nos oferece páginas preciosas para iluminar nossa existência nesse mundo de ontem e de hoje. Na primeira leitura há um grande passo a ser dado: Escutarás a voz do Senhor teu Deus. Ouvir a Palavra e praticá-la é o caminho a ser percorrido. “Esta palavra está perto de ti, está na tua boca e no teu coração, para que a possas pôr em prática”. Viver em comunhão com Deus é a grande recomendação que Paulo nos faz na segunda Leitura. E o Evangelho deste domingo é uma destas páginas de ouro do Evangelho de Lucas. Como estamos vendo nestes últimos domingos, Jesus e os discípulos caminham para Jerusalém. Ao longo desse caminho, Jesus prepara os discípulos para serem testemunhas e anunciadores do Reino de Deus. A escola de formação dos discípulos tem como cenário o caminho. Diferente das academias de gregos ou escolas do Rabinato judaico . A “parábola do bom samaritano” deve ser enquadrada neste contexto “formativo”. O ponto de partida é uma questão trazida por um “doutor da Lei”. O que fazer para obter a vida eterna. Os lideres judaicos costumam ser autossuficientes e gostam de provocar. No caso, quer “experimentar” Jesus. Com um toque de fina ironia, Jesus convida o doutor a responder ele próprio à questão, uma vez que é “mestre da Lei”: “Que está escrito na lei? Como lês tu?” O doutor mostra-se bom conhecedor da letra da Lei. Respondeu com clareza e convicção e Jesus reconhece seu saber. Mas Jesus vai ao coração da Lei. “Faze isto e viverás”. Não satisfeito, o doutor vai além e pergunta sobre quem é o próximo, pois ao longo da história os doutores estabeleceram quem era “próximo “e quem não era. Amar o próximo era amar as pessoas do seu grupo. Gentios, doentes, impuros, pobres, mulheres, os excluídos não eram o ‘próximo’. A conhecida parábola do “bom samaritano” é extremamente provocativa. Trata-se de uma parábola que visa ilustrar o que significa “amar o próximo como a si mesmo”. Os judeus de modo geral e, de modo particular os “doutores da lei”, se consideravam os destinatários da salvação e só eles seriam as pessoas corretas e exemplares. Judeu era “próximo “de judeu, jamais seria próximo de um gentio. A parábola do homem que caiu nas mãos de ladrões que o deixaram caído à beira do caminho, semimorto nos convida a lermos bel “por trás das palavras”. Passam pelo caminho duas figuras exemplares da salvação. Já sabemos que nada fazem, passam pelo outro lado do caminho. Protegem sua pureza ritual. Chega um “samaritano”, um “não próximo”, um inimigo dos judeus e dedica-se ao cuidado do ferido. O evangelista descreve, com detalhes, tudo o que o samaritano faz pelo outro. Inclusive envolvendo mais pessoas nesta corrente de solidariedade. Depois de Jesus concluir a parábola, veio a pergunta crucial: qual dos três foi o “próximo” daquele ferido à beira do caminho? O doutor da Lei não teve dúvidas: o que teve “compaixão”, o que teve “misericórdia” com o caído na beira da estrada. O doutor perguntara a Jesus quem era o seu próximo. Jesus, com respeito e sabedoria, ajuda-o a perceber que a grande questão não é a definição da lei de quem é o “próximo”. Trata-se de aproximar-se de quem necessita de ajuda e de amor. Jesus levou o doutor a ultrapassar a Lei e agir como Deus age. Segundo Lucas, só Deus é misericordioso. “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso”. Na parábola, um samaritano, um excluído, um impuro agiu como Deus age. O vocábulo “misericórdia”, em Lucas, é atribuído só a Deus. Assim, há estudiosos que afirmam que a parábola do “bom samaritano” deveria ser intitulada como a “parábola de um homem segundo Deus”. Ser movido por compaixão, agir segundo o princípio da Misericórdia é ser semelhante a Deus. Consideremos que a pergunta inicial do mestre da Lei foi sobre “o que fazer para alcançar a vida eterna”, seguida da pergunta sobre quem é o próximo. A parábola contada por Jesus mostra que o segredo da vida eterna é viver a compaixão, aproximar-se da pessoa necessitada e, por amor, viver a graça do cuidado. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ