17º Domingo do Tempo Comum

21/07/2022

Senhor, ensina-nos a orar – Lc 11,1-13 – Neste 17º domingo do tempo comum, o Evangelho continua no cenário do “caminho de Jerusalém”. O foco central da narrativa é a forma de dialogar com Deus, de cultivar a intimidade com o divino, de conhecer a linguagem nesta relação com o Deus da misericórdia.

Lucas é o evangelista da oração de Jesus. Estava Jesus em oração em certo lugar (v.1). Assim inicia nosso Evangelho deste dia. Lucas apresenta Jesus em oração em diversos momentos: no Batismo (cf. Lc 3,21), antes da eleição dos Doze (cf. Lc 6,12), antes do primeiro anúncio da paixão (cf. Lc 9,18), no contexto da transfiguração (cf. Lc 9,28-29), após o regresso dos discípulos da missão (cf. Lc 10,21), na última ceia (cf. Lc 22,32), no Getsêmani (cf. Lc 22,40-46), na cruz (cf. Lc 23,34.46).

Isto desperta nos discípulos o desejo de aprender a rezar como Jesus: “Senhor, ensina-nos a orar como João Baptista ensinou também os seus discípulos”. Pode-se suspeitar que há algo novo, diferente na forma de Jesus rezar, pois sendo Judeu e seus discípulos igualmente judeus, eles rezavam diversas vezes ao dia: tinham seu ritmo diário, semanal, anual: salmos, hinos, louvores, peregrinações, incenso, etc. A forma de rezar dava identidade ao grupo: ensina-nos a orar como João Baptista ensinou também os seus discípulos”. Os discípulos não pedem para aperfeiçoar o modo de rezar dos judeus, o que eles deveriam saber. Pedem para aprender a rezar em linguagem nova.

Jesus tinha um jeito pessoal de orar ao Pai, e os discípulos querem aprender este jeito. Não se trata tanto de ensinar uma fórmula fixa, que os discípulos devem repetir de memória. Mostra o jeito de cultivar intimidade com o Pai, segundo a cultura e a realidade concreta das pessoas. Isto se torna evidente se olharmos as distintas traduções do “Pai-nosso”. Em Lucas encontramos um Pai Nosso um tanto diferente de Mateus (cf. Mt 6,9-13). A versão de Mateus é mais longa, mais elaborada, com embelezamentos litúrgicos, característico do ambiente judeo-cristão. A versão de Lucas é mais breve, com menos embelezamentos litúrgicos. Segundo os estudiosos, a versão de Lucas está mais próxima da oração original, visto que Jesus pede para não “multiplicar palavras”. Nenhuma destas versões, porém, pretende reproduzir literalmente as palavras de Jesus.

Dois aspectos a serem considerados no diálogo com Deus. A “forma” e o “assunto”. Quanto a forma, deve ser um diálogo de um filho com o Pai. Na intimidade, na familiaridade. Quanto ao assunto, o diálogo terá como foco a realização do plano do Pai de estabelecer o Reino de Deus: “Venha o vosso reino

Tratar Deus como “Pai” não era novidade. No Antigo Testamento, Deus é “como um pai” que manifesta amor e solicitude pelo seu Povo (cf. Os 11,1-9). Na boca de Jesus, a palavra “Pai” tem sentido real, concreto. Ele é o Abba, o paizinho. Não é “como um pai”, mas é “o Pai”. Deus não é apenas o Pai de Jesus, mas aconselha os seus discípulos a tratarem a Deus da mesma forma.

Sentir-se “filho” desse Deus que é “Pai” significa reconhecer a fraternidade que nos liga a uma imensa família de irmãos. Dizer a Deus “Pai” exige sair do individualismo, superar as divisões e destruir as barreiras que impedem de amar e de ser solidários com os irmãos, filhos do mesmo “Pai”.

A oração do “Pai Nosso” é uma das orações mais “revolucionárias” que rezamos. Se fosse rezada na sua profundidade e sentido, seria acusada de “oração comunista”, como atualmente se denuncia qualquer ação que sinalize para a igualdade e fraternidade. Certamente o pedido dos discípulos para Jesus ensinar a rezar é de extrema atualidade: “Senhor, ensina-nos a orar como Jesus ensinou seus discípulos”. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ