17º Domingo do Tempo Comum
“Quando orardes, dizei: ‘Pai” – Lc 11,1-13 – Prosseguimos com Jesus e seus discípulos na grande viagem da Galileia para Jerusalém. Neste caminho se temos a “escola de formação dos discípulos” dos seguidores de Jesus. A cada novo cenário há ensinamentos novos, buscando capacitar os discípulos para o novo tempo, o “tempo da Igreja”. No domingo anterior estivemos juntos na casa de Marta e Maria, um cenário de intimidade, familiaridade e também de rupturas, onde Jesus reconhece o direito das mulheres escolherem e serem discípulas, algo inconcebível no judaísmo. Neste domingo mergulhamos numa temática muito própria de Lucas: a oração, a relação com Deus, o diálogo com o divino. A primeira Leitura já nos introduz no tema: um profundo diálogo entre Deus e Abraão sobre a realidade clamorosa de Sodoma e Gomorra. Um diálogo honesto e respeitoso, porém duro. Uma “conversa” que pode ser inspiração para nossa vida de oração. Na segunda leitura, na carta aos Colossenses, Paulo convida os fiéis a serem coerentes em sua opção por Jesus. No Evangelho Jesus continua no caminho que vai da Galileia a Jerusalém (cf. Lc 9,51-19,28). Como já vimos, não se trata de um caminho geográfico, mas sim formativo, espiritual, missionário. No relato deste domingo, o narrador nos leva a um lugar não identificado, certamente mais isolado, onde Jesus está em oração. Diferente da visita à casa de Marta e Maria, os discípulos, mesmo um pouco afastados, estão presentes e observam como Jesus reza. Certamente percebem a diferença entre a oração de Jesus e a que eles conhecem na tradição do Judaísmo. Quando Jesus termina, pedem-lhe que os ensine a rezar. Sentiram-se tocados pela forma de Jesus se dirigir a Deus. Segue a oração do “Pai-Nosso” que, na versão de Lucas, é mais breve e é diferente de Mateus. Sem nos deter nestas diferenças, dois aspectos devem ser considerados na oração do Pai-Nosso. O primeiro consiste na “forma”, ou seja, deve ser um diálogo de um filho para com seu Pai. O segundo aspecto é o “conteúdo” deste diálogo, expressão de um amor filial. Isto fica evidente no conteúdo da oração Pai – Nosso: “quando orardes, dizei: ‘Pai”. Tratar Deus como Pai já está presente no AT, na relação pessoal, subjetiva. Mas na oração de Jesus aparece o pronome “nosso”, que faz toda a diferença. Ao pedir aos discípulos que tratem Deus por “Pai nosso”, Jesus admite os discípulos à comunhão que existe entre Ele e o Pai. Identificados com Jesus, os discípulos estabelecem com Deus uma relação íntima, única, familiar. Passam a ser irmãos de Jesus e entram na família de Deus. Tornam-se “filhos de Deus”. A “atitude” ensinada por Jesus vem acompanhada do “tema”, ou seja do “conteúdo “da oração. O primeiro conteúdo: “santificado seja o vosso nome”. É o desejo de que todos os povos reconheçam Deus como Salvador do mundo. Será o fim de todas as injustiças e o início de uma nova realidade. Assim segue com a súplica: “venha o vosso reino”, o “Reino de Deus’, a grande “paixão” de Jesus. A terceira implora o pão cotidiano: ”dai-nos em cada dia o pão da nossa subsistência”. Certamente revela a realidade da Galileia, onde os pais não tinham pão para dar aos seus filhos. “Perdoai-nos os nossos pecados, porque também nós perdoamos a todo aquele que nos ofende”. Pedido de perdão é frequente nas orações do judaísmo. A diferença consiste no vínculo entre perdão de Deus e perdão aos irmãos. Quem quiser experimentar o perdão de Deus que cura e regenera, deve comprometer-se a perdoar aos seus irmãos. E o último pedido – “não nos deixeis cair em tentação” – é uma súplica a Deus para que nos livre de cair nas seduções contrárias ao Reino. Duas parábolas ilustram a lição de Jesus sobre a oração. Se as pessoas humanas são capazes de atender a súplica do outro, quanto mais Deus ouvirá as súplicas de quem a Ele se dirige. A confiança filial é atitude indispensável para a vida de oração: “Quando orardes, dizei: ‘Pai” – Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ