19º DOMINGO DO TEMPO COMUM

06/08/2020

“Tende confiança. Sou Eu. Não temais” – Mt 14,22-33 – O texto do Evangelho do 19º Domingo  está em sequência ao episódio do domingo passado, em que Jesus resgatou as grandes lições do deserto do povo de Deus, conduzido por Moisés. A partilha dos bens sacia o povo faminto. Mateus informa que, depois dessa ação messiânica, Jesus “obrigou os discípulos a subir para o barco e a esperá-lo na outra margem, enquanto Ele despedia a multidão” (Mt 14,22). Esta nota pode indicar que Jesus quis conter o entusiasmo excessivo dos discípulos ou, quem sabe, tirá-los de sua zona de conforto: “ir para a outra margem”. O episódio situa-nos na área do lago de Tiberíades ou da Genesaré, esse lago de água doce, com 21 quilômetros de comprimento e 12 de largura, situado na Galileia e que é o grande reservatório de água doce da Palestina. Para os judeus, o mar era o lugar onde habitavam os monstros, os demônios e todas as forças que se opunham à vida e à felicidade humana. Na perspectiva da teologia judaica, no mar a humanidade estava à mercê das forças demoníacas e só o poder de Deus podia salvá-la… Olhemos o texto mais de perto: Depois de despedir a multidão e de “obrigar” os discípulos a embarcar para a outra margem, Jesus “subiu a um monte para orar, a sós”. Mateus, diferente de Lucas, só se refere à oração de Jesus por duas vezes: no episódio do Getsêmani (cf. Mt 26,36) e aqui (v.23): em ambos os casos, a oração precede um momento de prova para os discípulos. Enquanto Jesus está em diálogo com o Pai, os discípulos estão sozinhos, atravessando o lago.  É de noite, o barco é açoitado pelas ondas e os “ventos são contrários”. Os discípulos estão assustados, temerosos e preocupados, pois Jesus não está com eles… O cenário deste Evangelho pode ser trazido para nossos dias, em que uma imensa “tempestade” agita o mundo, desconstruindo todas as “embarcações” de vida construídas até hoje. A pandemia é um dos maiores “ventos contrários” que a humanidade já viveu. É muito oportuno retomar a Homilia do Papa Francisco, do dia 27 de março, sozinho na Praça de São Pedro, quando fala da “tempestade”, a partir da narrativa de Marcos. Uma grande intervenção histórico-profética nesta tempestade deste “entardecer”. “Por que sois tão medrosos”? É a pergunta que continua a ressoar em nossos ouvidos. Mas voltando ao Evangelho de Mateus, a narrativa é, certamente, descrição do cenário da comunidade para a qual é escrito este Evangelho.  A “noite” representa as trevas, a escuridão, a confusão, a insegurança em que tantas vezes os discípulos “navegam”… As “ondas” que açoitam o barco representam a oposição do mundo, que bate continuamente contra o barco em que viajam os discípulos… Os “ventos contrários” são a resistência do mundo ao projeto de Jesus. Tanto lá quanto aqui, em nossas viagens pela história, sentimo-nos perdidas/os, sozinhas/os, abandonadas/os, desiludidas/os, incapazes de enfrentar os “ventos contrários” que o “mar da vida” lança sobre nós. Mas Jesus “caminha sobre as águas” (v 26) e nos estimula, a exemplo de Pedro, a fazer o mesmo. E quando as ondas ameaçam nos submergir, Ele estende as mãos e nos salva. Então, seguras/os e confiantes, prostramo-nos e confessamos: “Tu és verdadeiramente o Filho de Deus” (v. 33). Que em meio a e atual tempestade façamos a experiência de ouvir Jesus a nos segredar: “Tende confiança. Sou Eu. Não temais”. Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ