1º Domingo do Advento

01/12/2023

O Senhor vem – Mc 13,33-37 – Advento! Começamos um novo ano litúrgico, ano do ciclo B, no qual será lido o Evangelho de Marcos. É o primeiro domingo do Advento, tempo de preparação para o Natal. A palavra de ordem é: Erguei-vos e levantai a cabeça, porque Deus está próximo. Esta é a atitude própria de um sentinela. Advento é tempo de cultivar atitudes de sentinela, de vigilância, de plena atenção e de espera ativa, de compromisso efetivo com o surgimento de um mundo novo. A Liturgia da Palavra, por meio das três leituras, nos mergulha nesta dinâmica de nos fazer “esperar contra toda esperança”, em tempos tão difíceis como os atuais. “Que os céus se rasguem e que os montes estremeçam”, é a súplica do profeta Isaías na primeira leitura. E o Evangelho deste domingo inicia dizendo: Acautelai-vos e vigiai, porque não sabeis quando chegará o momento”.
Do ponto de vista geográfico, segundo a narrativa de Marcos, estamos em Jerusalém, pouco antes da Paixão e Morte de Jesus. É o terceiro dia da estadia de Jesus na cidade, o dia dos “ensinamentos” e das polêmicas mais radicais com os líderes judaicos (cf. Mc 11,20-13,1-2). No final desse dia, já no “Jardim das Oliveiras”, Jesus oferece a um pequeno grupo de discípulos, um ensinamento, que ficou conhecido como “discurso escatológico” (cf. Mt 13,3-37). Trata-se de um discurso apresentado em linguagem profético-apocalíptica, por meio do qual se descreve a missão da comunidade cristã ao longo da história, de forma velada, cifrada. É um texto complexo, emprega imagens e linguagem de difícil compreensão, próprias da linguagem apocalíptica. Não se trata de previsão de acontecimentos futuros, mas é uma leitura profética da história humana. O seu objetivo é orientar os discípulos a serem vigilantes e a cultivarem as atitudes necessárias frente aos acontecimentos que marcarão a caminhada histórica da comunidade.
Olhando mais de perto o texto, vemos que o discurso começa com uma parábola: a do homem que partiu em viagem, distribuiu tarefas aos seus servos e recomendou ao porteiro que vigiasse (cf. Mc 13,33-34). Termina com uma admoestação aos discípulos acerca da atitude correta para esperar o Senhor (cf. Mc 13,35-37). Os “servos” certamente são os “discípulos” que devem guardar o tesouro e fazer o Reino frutificar. O “dono da casa” é, certamente, Jesus que confiou aos discípulos a tarefa de construir o Reino de Deus. O “porteiro”, com a tarefa especial de vigilância (v. 34), é aquele que tem uma responsabilidade especial na coordenação da comunidade. A sua missão é cuidar que a comunidade não seja invadida por valores contrários ao Reino. Todos devem estar ativos e vigilantes. A palavra-chave do Evangelho deste dia é: “vigilância”, ou seja, viver o dia a dia comprometidos com a construção do Reino, realizando as tarefas confiadas pelo Senhor. Os discípulos que caminham pelo mundo devem estar conscientes de que a meta final do seu peregrinar é o encontro definitivo com Jesus. “O Senhor vem”, garante-lhes o próprio Jesus; e esta certeza deve animar e dar esperança aos discípulos, sobretudo nos momentos de crise e confusão, de perseguições e tentações. Mesmo que tudo pareça ruir à sua volta, eles são chamados a não perder a esperança e a ver, para além das estruturas velhas que vão caindo, a realidade do mundo novo a nascer. Um evangelho e uma mensagem de muita atualidade, mesmo que seja proclamado de forma enigmática. Um Evangelho muito oportuno no atual contexto, onde reinam as “Fake News”, as perseguições políticas e religiosas, a intolerância, o desrespeito pelo diferente. O convite neste primeiro domingo do Advento é assumir a esperança como modo de vida, pois o “Senhor vem” e a última palavra da história pertence a Deus.
(Zenilda L. Petry)