22º Domingo do Tempo Comum

25/08/2022

“Convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos” Lc 14,1.7-14 – Neste 22º domingo do Tempo Comum, a liturgia propõe-nos uma reflexão sobre alguns valores do “Reino”: a humildade, a gratuidade, o amor desinteressado. O cenário desta etapa do “caminho de Jerusalém” é um banquete na casa de um dos chefes dos fariseus, em dia de sábado. Deve tratar-se da refeição solene de sábado, que se tomava em torno do meio-dia, ao voltar da sinagoga. Durante a refeição, continuava-se a discussão sobre as leituras escutadas durante o ofício da sinagoga. Em Lucas, diferente de Mateus e Marcos, os fariseus têm maior proximidade de Jesus, que até o convidam para casa e se sentam à mesa com Ele (cf. Lc 7,36; 11,37). Estas diferenças entre Mateus e Lucas se devem às realidades de cada comunidade.

Os fariseus formavam um dos principais grupos religioso-políticos da Palestina da época. Dominavam os ofícios das sinagogas e estavam presentes em todos os passos religiosos dos israelitas. A sua preocupação fundamental era transmitir o amor pela Torah, a Lei. Eram sérios e empenhados na santificação do Povo de Deus. Porém absolutizaram a Lei e esqueceram as pessoas. O amor e a misericórdia não faziam parte de seu “dicionário”. Consideravam-se “puros” e desprezavam os pobres. Em Mateus, comunidade de origem judaica, os fariseus são tratados como inimigos de Jesus (cf Mt 23). A comunidade de Lucas, formada por pessoas de origem “gentílica”, tinha mais simpatia pelos fariseus. O foco da mensagem de Jesus não estava na Lei, mas nos grandes valores do Reino.

O cenário do banquete é o ponto de partida para o ensino de Jesus. Ele é o personagem em destaque: “Todos O observavam”. No mundo semita, o banquete era espaço do encontro fraterno, onde os convivas partilhavam do mesmo alimento e estabeleciam laços de comunhão, de proximidade, de familiaridade, de irmandade. Jesus aparece, muitas vezes, participando em banquetes, não como “comilão e bêbedo” (cf. Mt 11,19), mas porque as refeições eram metáfora do “reino”, lugar de comunhão, de encontro, de familiaridade.

O texto, sob o ponto de vista literário, apresenta duas partes. A primeira (vv. 7-11) trata da falta de respeito ao protocolo de não escolher para si os primeiros lugares. O correto agir é ser discreto, humilde, respeitoso e aguardar os respectivos lugares.

Na segunda parte (vv 12-14) Jesus questiona o costume de convidar apenas os amigos, os irmãos, os parentes, os vizinhos ricos, os que podiam retribuir o convite. Pessoas que não eram do mesmo nível social não eram convidadas. Nenhum fariseu se sentava à mesa com alguém pobre, desclassificado e pecador. Escolhiam cuidadosamente os seus convidados para a mesa. Assim sendo, o banquete se tornava um intercâmbio de favores de classes privilegiadas e não gratuidade e amor desinteressado.

A lógica do “Reino” segue por outros caminhos: é um espaço de irmandade, de fraternidade, de comunhão, de partilha e de serviço, que exclui qualquer atitude de superioridade, de orgulho, de ambição, de domínio sobre os outros; quem quiser entrar No reino, tem de fazer-se pequeno, simples, humilde e não ter pretensões de ser superior, mais justo, ou mais importante que os outros.

No contexto atual, onde reinam a autorreferencialidade, o egoísmo, o narcisismo, a centralidade do eu, a mensagem do Evangelho constitui um verdadeiro ato revolucionário, um apelo de conversão para a Igreja, a VR e todos os fiéis. Os valores apregoados pelo mundo estão do lado oposto aos valores do Reino de Deus. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ