23º Domingo do Tempo Comum
Caminho do discípulo – Lc 14,25-33 – Prosseguimos, com Jesus e seus discípulos, a caminho de Jerusalém, um caminho simbólico e teológico, um caminho com paradas, descansos, curvas, subidas e descidas, encontros e desencontros, curas e resgates, ora em casa de amigas transmitindo a Palavra, ora fazendo refeição na casa de fariseus, ora passando a noite em oração. A nossa vida é um caminho, com todas estas mesmas experiências. É necessário pensar nossa vida como “caminho” e “Peregrinas de Esperança”. A liturgia deste 23º domingo do Tempo Comum nos enriquece com novos olhares sobre o Reino de Deus. A primeira Leitura nos coloca no ambiente de “sábios”, que nos ajudam a perceber nossos limites e focalizam a importância da “sabedoria” para construir uma vida plena de sentido. A segunda leitura, a carta de São Paulo a Filêmon, é uma verdadeira obra de arte teológica e eclesial. Um tesouro escondido em um “pequeno frasco”. Uma carta muito breve, bem pessoal. Filêmon é convidado a acolher Onésimo, seu escravo fugitivo, que lhe causou danos e que Paulo encontrou na prisão. Convertido, Paulo envia-o de volta e pede que seja acolhido como irmão, no perdão, na fraternidade, no amor. Como cristão e amigo de Paulo, Filêmon é desafiado a romper a relação “senhor e escravo” , sistema da época, e acolher o ex escravo como “irmão querido”. Um ato revolucionário, de mudança radical do sistema. Hoje certamente seria acusado de “comunista’”. O Evangelho, por sua vez, traça o perfil dos que assumem a ação revolucionária do Reino de Deus. Neste caminhar de Jesus e de seus discípulos para Jerusalém, temos a “Escola de Formação” em preparação de seus discípulos para o encontro com os líderes judaicos da capital, onde haverá o confronto com a proposta do Reino de Deus. Não somente os “Doze”, mas todos os que vão se agregando ao longo do caminho precisam saber qual o projeto de Jesus e suas exigências. Entusiasmo momentâneo não é suficiente. Então Jesus indica uma série de condições necessárias para segui-Lo. Condições bastante duras, radicais, longe de qualquer lógica humana. Todas incluem grandes renúncias a fim de centrar a vida em Jesus e na proposta do Reino de Deus. A primeira condição é a renúncia à família. Não é rejeitar ou abandonar, mas relativizar os laços familiares. A prioridade absoluta é o Reino de Deus. Se a família se opuser, a opção é deixar todos, inclusive a esposa. A segunda condição é a renúncia ao próprio Eu. Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não pode ser meu discípulo. Tomar a cruz e seguir é esquecer-se de si mesmo e ter os olhos fixos Jesus. A terceira condição é a renúncia aos bens materiais. “Quem de entre vós não renunciar a todos os seus bens, não pode ser meu discípulo”. Parece que não há negociação nestas exigências. Quem não fizer…. “não pode ser meu discípulo”. São exigências duras que precisam ser bem avaliadas por quem se põe no seguimento. Daí as parábolas da construção da torre e do rei que parte para a guerra. O caminho do discipulado é um belo caminho, mas que precisa ser assumido com consciência e decisão bem ponderada. Numa cultura do descartável, do vale enquanto dura, do lucro e acúmulo de bens, da autorreferencialidade e poder, ser discípulo de Jesus vai se tornando sempre mais difícil. Daí a tendência hoje de práticas religiosas piedosas, de aparência pomposa e tantas outras manifestações distantes do Evangelho. Que Deus nos ajude a buscar o caminho do verdadeiro discípulo. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ