23º Domingo do Tempo Comum

01/09/2022

O caminho do discípulado por causa do Reino” – Lc 14,25-33 – A liturgia deste 23º domingo do Tempo Comum mostra o quanto é exigente o caminho do “Reino”. Quem entrar em contacto com esta proposta precisa considerar seriamente se pode ou não acolher o convite.

Estamos ainda com Jesus no “caminho para Jerusalém”. Desta vez, o ensinamento de Jesus dirige-se “às multidões”, ou seja, a todos os discípulos presentes e futuros.

A parábola do domingo anterior (cf. Lc 14,15-24) havia revelado que o “banquete do Reino” estava aberto a todos, de modo especial aos pobres, estropiados, cegos e coxos, os últimos…

 Neste domingo Lucas vai apresentar algumas exigências para quem quer participar do “banquete do Reino”. A “instrução” reúne diversos ensinamentos sobre a condição de ser discípulo, tendo como tema central a “renúncia”.

Quais são as exigências fundamentais para quem quer seguir o “caminho do discípulado” e chegar a participar do “Reino”?

Jesus põe três exigências, todas elas centradas na “renúncia”. Na primeira, Lucas põe na boca de Jesus uma expressão muito forte. “Quem não odeia o pai, a mãe… não pode ser meu discípulo” (v. 26). Então, para ser discípulo, é preciso “odiar”? Qual o sentido do verbo “odiar” em nossa atual cultura? No contexto atual, o ódio é um sentimento que tomou proporções “mortais”.

 Segundo a cultura oriental, “odiar” tem o sentido de “pôr em segundo lugar”. É evidente que Jesus não está ordenando odiar, especialmente aqueles  a quem nos ligam laços de amor…Exige sim que as relações familiares não nos impeçam de aderir ao “Reino”. A prioridade deve ser do “Reino”.

A segunda exigência é a de renunciar à própria vida, se preciso for (v. 27). O discípulo de Jesus não pode fazer opções egoístas, colocando em primeiro lugar os seus interesses pessoais, os seus esquemas, aquilo que é melhor para ele. Tem de colocar-se ao serviço do “Reino” e fazer da sua vida um dom de amor aos irmãos, se necessário até à morte.

A terceira exige a renúncia aos bens (v. 33). Pode-se viver sem possuir bens? Jesus sabe que os bens podem facilmente transformar-se em “deuses”, tornando-se uma prioridade, escravizar a pessoa e levar a viver em função de si mesmo. Então não há espaço para o “Reino”. Dar prioridade aos bens significa viver de forma egoísta, esquecendo as necessidades dos irmãos.

Com este rol de exigências, fica claro que a opção pelo “Reino” não é um caminho de facilidade. Trata-se de um caminho que nem todos aceitam seguir. Jesus recomenda calcular bem o projeto e as consequências da opção pelo “Reino”.

A parábola do homem que, antes de construir uma torre, deve calcular se tem com que terminá-la (vv. 28-30) e a parábola do rei que, antes de partir para a guerra, analisa se tem condições de vencer outro rei com forças superiores (vv. 31-32) nos convidam a tomar consciência da nossa força, da nossa disposição e vontade, da nossa decisão em corresponder aos desafios do Evangelho e em assumir, com radicalidade, as exigências do “Reino”.

A atualidade deste Evangelho é evidente. Vivemos em contexto de manipulação da fé, de discursos de ódio em nome de Deus, de idolatria do Eu, onde os cálculos não são feitos para alcançar o Reino, mas para implantar projetos diabólicos contra a vida e a verdade. Ir Zenilda Luzia Petry – FSJ