27º DOMINGO DO TEMPO COMUM

29/09/2022

“Fizemos o que devíamos fazer” – Lc 17,5-10 – Neste 27º domingo do Tempo Comum, dia 02 de Outubro, 1º domingo do mês das missões, dia de eleições gerais no Brasil, a Palavra de Deus vem de encontro ao coração de todos estes eventos. Por vários domingos seguidos, o Evangelho de Lucas vinha nos alertando sobre a questão da riqueza e da pobreza. Esta temática chegou a uma radicalidade no 26º domingo, com a parábola do rico avarento e do pobre Lázaro. O “abismo entre ricos e pobres” foi uma dura palavra do pai Abraão que continua ressoando em nossos ouvidos, de forma atualizada.

                Olhando o Evangelho mais de perto, vemos que continuamos seguindo Jesus no “caminho para Jerusalém”. Nas “etapas” anteriores, Jesus tinha avisado aos discípulos sobre a dificuldade de percorrer o “caminho do Reino”, pois é preciso “entrar pela porta estreita” (Lc 13,24), cultivar a humildade e a gratuidade (cf. Lc 14,7-14), amar mais o “Reino” do que a própria família e os bens  (cf. Lc 14,26-33). Mostrou, com clareza, que não se pode amar a Deus e ao dinheiro e que viver acumulando bens, sem se preocupar com os outros, leva a sofrer tormentos. Então os discípulos, preocupados com as exigências do “Reino” pedem: “Aumenta a nossa ” (v.5). A fé tradicional não sustenta mais a caminhada em busca do Reino. Por outro lado, parece que os discípulos ainda estão no critério da “quantidade”. “Aumentar” a fé…. O exemplo que Jesus cita não poderia ser mais desconcertante: Se tivésseis fé como um grão de mostarda”(v.6). A menor das sementes serve para Jesus explicar a importância da “qualidade” da fé. É um ato de entrega e confiança plena em Deus.  Do ponto de vista da Sagrada Escritura, fé não é crer nos dogmas, nem conhecer um conjunto de verdades sobre Deus. Fé é opção por Jesus, é adesão à sua proposta, ao seu projeto. Fé é prática, é entregar-se ao projeto do “Reino”.

Os discípulos revelam clara consciência de que essa opção por Jesus e pelo Reino não é um caminho fácil; trata-se de um compromisso radical que exige coragem de abandonar a “zona de conforto” em que se costuma estar instalado, romper com o egoísmo tão arraigado no ser humano, carregar a cruz e seguir um caminho exigente. Pedir a Jesus que lhes aumente a fé significa pedir-Lhe que lhes aumente a coragem de optar por este caminho do “Reino”.

A imagem exagerada utilizada por Jesus, da ordem dada à “amoreira” para se arrancar da terra e ir plantar-se a ela própria no mar, mostra que, com a “fé” tudo é possível. A fé gera a transformação completa da pessoa e, em consequência, produz uma transformação do mundo.

Jesus não ensina como “aumentar” a fé, como “acreditar” em mais coisas, mas nos mostra o caminho para “qualificar” a fé com a prática do serviço amoroso, humilde, de “servos inúteis” e fazer o que cabe a cada um fazer: “Fizemos o que devíamos fazer”.

Imaginemos como o Brasil seria diferente se os políticos e todos os que exercem função de liderança pautassem suas vidas pela Palavra de Deus que sabem bem citar e que, ao final do mandato, pudessem dizer de forma transparente: “Fizemos o que devíamos fazer”. “Somos servos inúteis”. Mas o que estamos vendo e ouvindo, nos deixa em extrema perplexidade.

A nós que recebemos o dom da fé, o mês das missões nos convoca a sermos transmissores e animadores desta mesma fé, através do anúncio e do testemunho de nossa entrega à causa do Reino.

Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ