29° Domingo do Tempo Comum

16/10/2020

“Dar a Deus o que é de Deus”  –  Mt 22,15-21- Conforme os domingos anteriores, o cenário do Evangelho deste dia é mais uma vez Jerusalém, lugar do confronto entre Jesus e as lideranças religiosas do judaísmo. De um lado estão os dirigentes judeus que sustentam a tradição e, instalados em sua “zona de conforto”, se recusam radicalmente a acolher a proposta do Reino. Do outro lado está Jesus, portador da boa nova, que usa todos os recursos possíveis para ajudar os dirigentes a perceberem que, recusando a Ele, recusam a Salvação. As parábolas dos domingos anteriores ilustram bem esta tensão existente entre os dois projetos: os dirigentes religiosos e suas certezas, Jesus e sua proposta de Salvação. A liturgia de hoje (cf. Mt 22,15-21) trata de uma questão muito delicada. Diz respeito à obrigação de pagar ou não os tributos ao imperador de Roma. Buscando situar na história, as províncias romanas pagavam ao Império o tributo que era uma quantia estipulada por Roma e que todos os habitantes do Império, com exceção das crianças e dos velhos, deviam pagar. Era uma forma cruel de domínio. Os partidários de Herodes e os saduceus apoiavam este tributo, pois aceitavam o domínio de Roma. Os movimentos revolucionários eram contra o pagamento, pois tinham o imperador como um usurpador do poder que pertencia somente a Deus, segundo a doutrina defendida pelos fariseus. A questão colocada para Jesus pelos fariseus foi a de se é lícito ou não apoiar esse sistema gerador de escravidão. Os fariseus prepararam uma armadilha para confundir e apanhar Jesus e assim acusá-lo. Se Jesus se pronunciasse a favor do pagamento do tributo, seria acusado de colaborar e defender a usurpação do poder que pertencia somente a Deus. E se Ele se pronunciasse contra o pagamento do imposto, seria acusado de revolucionário, inimigo da ordem romana. Confrontado com a questão, Jesus convidou os fariseus a mostrarem a moeda do imposto e a reconhecerem a imagem de César gravada na moeda. Na verdade, os fariseus caíram na armadilha que eles prepararam, uma vez que a lei proibia de esculpir imagens (cf. Ex 20,4). A sentença de Jesus é clara: “dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (v. 21). O cidadão deve cumprir suas obrigações para com o Estado, com a comunidade na qual está integrado: “dar a César o que é de César”. Mas o que é mesmo de César? O seguidor de Jesus reconhece a Deus como único Senhor.  As moedas romanas têm a imagem de César: que sejam dadas a César. O ser humano foi criado “à imagem de Deus”. Traz em si a imagem de Deus e não de César. “Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus” (cf. Gn 1,26-27). Portanto, a humanidade pertence somente a Deus, deve entregar-se a Deus e reconhecê-lo como o seu único senhor. César mão é o senhor.  Jesus recusou-Se a entrar num debate de carácter político e colocou a questão a um nível mais profundo e mais exigente. O de reconhecer Deus como único senhor e realizar a vocação essencial de entrega a Deus. O ser humano vem de Deus e é de Deus. Nenhuma criatura neste mundo pode ter o domínio sobre os outros. César não tem o direito do domínio sobre as pessoas. “dai a Deus o que é de Deus”, ou seja, as pessoas pertencem a Deus. A humanidade pertence a Deus e não há ser neste mundo que seja proprietário das pessoas.  Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ