2º Domingo do Tempo Pascal – Domingo da Divina Misericórdia
Ver, tocar, acreditar – Jo, 20,19-31 – Segundo domingo do Tempo Pascal! Celebramos neste dia o domingo da Misericórdia, instituído pelo Papa João Paulo II. A liturgia continua celebrando a Boa notícia da ressurreição de Jesus e, neste dia celebramos a ressurreição do papa Francisco, o Papa que viveu profundamente a misericórdia. As leituras nos ajudam a prosseguir na busca de um aprofundamento da fé na ressurreição e no testemunho de uma vida nova em Deus, no espírito de misericórdia. Olhemos o Evangelho deste dia. Depois da narração da Paixão e Morte de Jesus, com provas irrefutáveis de sua morte, os evangelistas relatam o seu sepultamento, feito num túmulo novo, com uma grande pedra colocada na entrada do sepulcro, atestando assim que Jesus estava realmente morto. Seria o fim de uma vida normal. Repentinamente os relatos evangélicos mudam o foco das narrativas. João inicia dizendo: “na tarde daquele dia, o primeiro da semana”. Os relatos da ressurreição insistem em dizer que era o “primeiro dia da semana”. O normal é ver esta descrição como sendo uma informação de calendário: domingo, o primeiro dia da semana. A Igreja passou a guardar o domingo como “dia do Senhor”. Mas olhando o texto mais de perto, parece que se trata do “primeiro dia” de um tempo novo, de uma nova criação, de uma humanidade renovada. No Evangelho João informa que, na “tarde deste primeiro dia”, a comunidade dos discípulos estava reunida e fez a experiência do encontro com Jesus, vivo e ressuscitado. O relato inicia descrevendo a situação em que os discípulos se encontravam: era no “anoitecer”, de “portas fechadas”, com “medo”. Uma insegurança e a sensação de desamparo diante do poder do mundo que condenou Jesus à morte. Na experiência de trevas, Jesus apareceu “no meio deles”. Ele está vivo, venceu a morte, está “no meio deles”. Não só está no meio, mas, por duas vezes, transmite-lhes a paz, o Shalom, a plenitude da vida, a salvação. Não mais morte, opressão, mentira, violência, hostilidade, mas o bem pleno, a salvação. Depois lhes mostra as “mãos” e o “lado”. Mãos que “fazem” e lado que “sente”, sinais do amor e da doação, da entrega de uma vida por pura compaixão e misericórdia. Os discípulos se enchem de alegria, pois se realiza aquilo pelo qual se puseram no seguimento de Jesus. Então Jesus “sopra” sobre eles e lhes confere a missão: “Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes serão retidos”. Sua missão é difundir a misericórdia, agindo como “Missionários da misericórdia”, ministério este instituído por João Paulo II e que o Papa Francisco voltou a reafirmar neste ano Jubilar. A seguir, temos o episódio de Tomé, aquele discípulo ausente no momento da visita de Jesus. Trata-se de um personagem no qual nos espelhamos. Ele é nosso “irmão gêmeo”. Ausentes tantas vezes do convívio comunitário, queremos “ver”e “tocar” em Jesus, para então crer, mas de forma individual, subjetiva. A comunidade é o lugar onde se faz a experiência da presença de Jesus vivo. O ressuscitado apresenta-se “no primeiro dia da semana”, na comunidade reunida. Tomé “não estava com eles”. Estava fora da comunidade. “Se eu não vir o sinal dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo nesse sinal dos pregos e a minha mão no seu lado, não acredito”. Ao invés de abrir-se e participar da alegria dos outros discípulos, quer uma demonstração particular de Deus. O individualismo, a autorreferencialidade, é a grande barreira para um verdadeiro encontro com Jesus ressuscitado. Mas há uma nova oportunidade para Tomé: “oito dias depois” Jesus volta e se encontra com os discípulos reunidos. Desta vez Tomé está na comunidade. A presença de Jesus vivo gera um profundo impacto. Tomé já não precisa ver e tocar para acreditar. Sua fé o leva a fazer a grande declaração de fé: “Meu Senhor e meu Deus!” O relato da experiência de Tomé nos ensina que não são as posturas pessoais, íntimas, fechadas, egoístas, que nos levam ao encontro de Jesus ressuscitado. Jesus ressuscitado se revela na comunidade, que tem as “mãos” abertas aos mais necessitados e o “lado” jorrando rios de misericórdia. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ