2º Domingo do Advento – 06/12/2020

03/12/2020

Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” – Mc 1,1-8 – A liturgia do segundo domingo do Advento nos convoca a mergulharmos na fonte originária de nossa existência e a fazer um processo de transformação pessoal. A frase de abertura do Evangelho de Marcos é como o ressoar de uma trombeta que anuncia algo novo por acontecer. É um novo “princípio”,  é um “Evangelho”,  é de “Jesus Cristo”, que é o “Filho de Deus”. Segue o prenúncio da grande espera: o Deus da liberdade, da justiça e da paz, virá a nós como “ternura e compaixão”, na simplicidade e fragilidade de uma criança. O precursor desta alegre notícia nos interpela a “preparar seus caminhos”,  que o profeta Isaias colocara num cenário de “deserto”, um cenário de extrema semelhança com tempos atuais …  O Evangelho de Marcos foi o primeiro dos evangelhos a ser redigido, escrito em torno do ano 70 dC. Os estudiosos afirmam que os destinatários desta obra eram cristãos de origem pagã, que viviam nas periferias de Roma. Por volta do ano 66, o imperador Nero organizou uma grande perseguição contra os cristãos da capital do império. Pedro e Paulo teriam sido mortos nesta época, junto com muitos outros seguidores de Jesus. Neste contexto, seguir Jesus era correr o risco de ser perseguido, maltratado e morto. Em tal situação era necessário afirmar a fé em Jesus Cristo e traçar o caminho do discipulado. É o foco do Evangelho de Marcos, que vamos contemplar neste novo ano Litúrgico: quem é Jesus e como ser discípulo. Para o evangelista Marcos, crer em Jesus como “Filho de Deus” era garantia de fidelidade ao seguimento de Jesus, naquele contexto de perseguição, sofrimento e cruz. A forma como Marcos inicia o Evangelho  é chave de Leitura de toda a Obra: “Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” v 1). No fim, na cena da crucificação, o autor coloca na boca do centurião a mesma confissão: “verdadeiramente este homem era o filho de Deus” (Mc 15,39). Crer que Jesus é o Filho de Deus é condição de salvação.  Após esta solene afirmação (v1), o texto deste domingo se volta para o precursor e apresenta: a) a missão de João Baptista (vv. 2-3); b) a sua pregação (v. 4);  c) a reação dos ouvintes (v. 5);  d) o estilo de vida de João (v. 6);  d) o testemunho de João sobre Jesus (vv 7-8). Qual é, pois, a missão de João? De acordo com o nosso texto, é ser o “mensageiro” que prepara o caminho para o “Messias”, “Filho de Deus” (v. 2). A pregação de João é feita “no deserto”, um cenário estranho, pois no deserto não haveria ouvintes. O simbolismo é evidente. O “deserto”, no contexto da catequese judaica, é o lugar onde o Povo de Deus realizou uma caminhada de mudança de compreensão, de conversão. Foi no deserto que os israelitas, libertados do Egito, passaram de uma mentalidade de escravos para uma de pessoas livres;  de uma mentalidade individualista para a uma de partilha; da desconfiança em relação à proposta libertadora, para uma confiança total num Deus que cumpre as suas promessas e que é fonte de vida e de liberdade para o seu povo. A informação de que “todo o povo acorria a João”, certamente não é histórica, mas sugere a urgência de adesão a esta fonte originária da salvação. A mensagem transmitida por João, tanto com a palavra quanto com a própria atitude de vida, é um grande apelo à conversão, à mudança de vida e de mentalidade. É a volta ao “principio”, ao “deserto”, ao lugar do “encontro” com  “Jesus Cristo, o Filho de Deus”. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ