2º Domingo do Advento

07/12/2023

Preparai o caminho do Senhor– Mc 1,1-8 – A liturgia do segundo domingo de Advento constitui um veemente apelo à CONVERSÃO. No primeiro domingo tivemos VIGIAI como palavra-chave. No segundo domingo somos interpelados/as ao reencontro com Deus, à mudança de mentalidade em nosso ser e agir, um apelo presente nas três leituras. Na primeira, Isaías anuncia “ao coração de Jerusalém” que a “consolação” do Senhor está próxima. A imagem do “falar ao coração” sugere a relação de amor entre Javé e o seu Povo. Deus “fala ao coração” do Seu povo, com amor e ternura, a fim de o consolar. Ao Povo, por sua vez, é pedido que abandone seus hábitos de comodismo, de egoísmo e de autossuficiência e aceite, outra vez, confrontar-se com os desafios de Deus. A segunda leitura volta ao tema da “vigilância”, ao cuidado cotidiano da construção do Reino. Trata-se de uma contínua conversão. No Evangelho, “princípio” da obra de Marcos, temos a figura de João Batista que anuncia o Messias e aponta para a importância e a urgência da conversão, da transformação, da mudança de vida e de mentalidade, indicando, inclusive, as ações concretas desta conversão. Olhando o Evangelho mais de perto, os estudiosos afirmam que Marcos é o primeiro dos Evangelhos a ser redigido, e teria sido em torno dos anos 70. Pelo que tudo indica, foi escrito à comunidades constituídas de pessoas simples, pobres, cristãos vindos diretamente do paganismo. Pelo que parece, estavam situados em Roma, num contexto de perseguições, no tempo do imperador Nero. O principal foco era levar os cristãos à fé em Jesus “o Filho de Deus”. O Evangelho inicia de forma muito reveladora: “Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus”. Na sua quase conclusão, quando Jesus morre na cruz, o centurião, um pagão, afirma: “Verdadeiramente este homem era o filho de Deus” (Mc 15,39). Em nosso texto de hoje, após a frase introdutória, a narrativa segue com a apresentação da “missão de João Batista”, a sua “pregação”, a “reação dos ouvintes”, o seu “estilo de vida” e o “testemunho sobre Jesus”. Como se afirma de maneira direta e simples, a missão do Batista é ser “mensageiro” que prepara o caminho do “Messias”, o “Filho de Deus”. O evangelista narra tal missão afirmando que João “apareceu no deserto a proclamar um batismo de penitência para remissão dos pecados”. Para os judeus, o Messias só viria quando Israel fosse a comunidade santa de Deus. Daí a necessidade de purificação e conversão. A pregação de João é feita “no deserto”. O “deserto” é, para os judeus, o lugar onde o Povo de Deus, libertado do Egito, passou de uma mentalidade de escravos para uma de homens livres, do egoísmo para a partilha, de uma atitude de desconfiança em relação à proposta libertadora que Moisés lhes apresentou, para uma confiança total num Deus que cumpre as suas promessas e que é fonte de vida e de liberdade para o seu Povo. A pregação de João lembrava aos israelitas a necessidade de voltar ao “deserto” e de percorrer um caminho semelhante àquele que os antepassados tinham percorrido. A “reação do povo”, descrita de forma exagerada, mostra o sonho de que a mensagem seja acolhida pela humanidade e haja mudança de vida. A descrição do “estilo de vida” de João é um convite claro à renúncia aos valores do mundo. Seu testemunho é de um profeta sóbrio, desprendido, austero, simples. Esta é a forma de “preparar os caminhos do Senhor”, tão diferente da que o mundo propõe. A figura de João Batista, junto com a do profeta Isaías, são as figuras que preparam o Natal. Infelizmente o Papai Noel ocupa todo o imaginário. Que neste ano, em que se celebra os 800 anos do primeiro presépio, fruto da arte e mística de São Francisco de Assis, consigamos despertar para um novo “principio da boa nova de Jesus, o Filho de Deus” . Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ