2º Domingo do Tempo Comum – 16/01/2022

14/01/2022

Fazei tudo o que Ele vos disser” – Jo 2,1-11 – Iniciamos o “Tempo Comum” de 2022, tempo litúrgico das coisas ordinárias da vida de Jesus e da Igreja. Este tempo inicia após a celebração do Batismo do Senhor, quando também se encerra o tempo de Natal. Neste domingo, identificado como 2º Domingo, temos o Evangelho das “Bodas de Caná”, quando Jesus, segundo João, inicia sua vida pública, e o faz de maneira festiva, solene, num casamento, sob a intervenção de Maria.

O texto pertence à “secção introdutória” do Quarto Evangelho (cf. Jo 1,19 a 3,36). Nessa secção, o autor apresenta um conjunto de cenários, como se fosse num palco de teatro, com entradas e saídas de personagens, destinados a apresentar Jesus e o seu programa. O episódio das Bodas de Caná é um dos “Sinais” que são “Sete” em João. Sendo um “sinal”, precisa ser lido para além das palavras. Trata-se de um relato a ser lido, como se diz, “por traz das palavras”.

A narrativa informa que houve um casamento! Estiveram presentes Maria, Jesus, os discípulos e diversas outras pessoas. Faltou vinho! Houve a transformação de água em vinho. Por detrás dessas informações, há uma série de pessoas e elementos simbólicos.

O vinho era considerado uma bebida de imortalidade, a bebida do amor, a expressão da força de Deus que penetra o coração humano. O cenário de casamento reflete a relação de amor entre Deus e o povo. Assim sendo, trata-se da “aliança” entre Israel e seu Deus. Falta vinho nesta relação! A realidade da “aliança” tornou-se uma relação vazia, sem alegria, sem amor, sem festa. Esta situação  é representada pelas “seis talhas de pedra destinadas à purificação dos judeus”. As talhas estão “vazias”, porque todo este aparato de purificação não serve mais para a aproximação de Deus. O número “seis” evoca a imperfeição, o incompleto; a “pedra” recorda as tábuas de pedra da Lei do Sinai e os corações de pedra de que falava o profeta Ezequiel.

O cenário conta ainda com personagens representativos que dão sentido ao relato. Temos, em primeiro lugar, a “mãe”: ela “estava lá”, como alguém que fazia parte da festa. Ė ela que percebe a situação constrangedora: “eles não têm mais vinho”! Maria representa o Israel fiel, que já percebeu a realidade falida e que confia no Messias que irá restaurar a vida do povo. Temos o “chefe de mesa”, cuja função era o cuidado por nada faltar: são os dirigentes judeus, instalados comodamente, que não se apercebem que a antiga “aliança” caducou. Há os “serventes”, prontos para atender no que for necessário: são os que colaboram com o Messias, que estão dispostos a fazer tudo “o que Ele disser”. Temos Jesus, a quem a “mãe”, o Israel fiel, alerta para a falta de vinho. É a súplica dos pobres e excluídos, dos que não são atendidos pelos “chefes de mesa”. O Messias anuncia que não se trata apenas da “falta de vinho”, de vinho do amor, mas que se faz necessário uma radical mudança. A resposta de Jesus à sua mãe – “que temos nós com isso?” – mostra que as instituições antigas nada têm a ver com a boa nova que Ele anuncia. Nós ”nada temos a ver” com estas instituições rituais, vazias, sem sentido. A “boa nova” acontecerá quando chegar a “Hora”, ou seja, quando entregar sua vida na cruz, numa doação total por amor. Lá, novamente, sua mãe estará presente e novamente dirá aos serventes de ontem e de hoje: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ