2ºDomingo da Quaresma

10/03/2022

Enquanto ele estava a orar, a aparência de seu rosto mudou– Lc 9,28-36 – A leitura que a Igreja propõe neste 2º Domingo da Quaresma, Ano C, é o Evangelho segundo Lucas, que nos apresenta o relato da chamada “Transfiguração de Jesus”.

A narrativa da transfiguração, mais do que uma crônica fotográfica de acontecimentos, é uma página de teologia sobre Jesus, o Messias, Filho amado do Pai que, através da cruz, irá concretizar um projeto de vida. Tudo acontece durante a “oração” de Jesus: “Enquanto ele estava a orar, a aparência de seu rosto mudou. Jesus, profundamente recolhido, acolhe a presença de seu Pai e seu rosto muda. Os discípulos percebem algo da Sua identidade mais profunda e oculta, algo que eles não conseguem entender na vida de cada dia.

Contextualizando a narrativa: estamos no final da “etapa da Galileia”, na qual Jesus anunciara a “salvação aos pobres, proclamou a libertação aos cativos, fez os cegos recobrar a vista, mandou em liberdade os oprimidos, proclamou o tempo da graça do Senhor” (cf. Lc 4,16-30). Jesus já constituiu um grupo de discípulos à sua volta, que foram instruídos sobre Jesus e sua missão, sobre o Messias esperado, mas que passa pela cruz. O entusiasmo e a perplexidade são constantes na vida de seus seguidores. Então, antes de subirem para Jerusalém, onde se dará o desfecho trágico da vida do Messias, recebem, no alto de um monte, a revelação do Pai que atesta que Jesus é o seu Filho bem amado.

O episódio está cheio de referências ao Antigo Testamento. O “monte” recorda o monte Sinai, onde Deus se revela e faz aliança com seu povo. A “mudança” do rosto e as vestes de brancura resplandecente recordam o resplendor de Moisés, ao descer do Sinai (cf. Ex 34,29). A “nuvem” indica a presença de Deus conduzindo o seu Povo através do deserto. “Moisés e Elias” representam a Lei e os Profetas. Eles falam com Jesus sobre a sua “morte” que vai se dar em Jerusalém. O “sono” dos discípulos é simbólico. Eles “dormem” porque não querem entender que a “glória” do Messias tenha de passar pela experiência da cruz e da entrega da vida. A construção das “tendas” parece significar que os discípulos queriam deter-se nesse momento de revelação gloriosa, de festa, ignorando o destino de sofrimento de Jesus. Lucas diz que Pedro “não sabia o que dizia”. A cena culmina com uma voz e um mandato solene. Os discípulos estão envoltos numa nuvem. Assustam-se, pois tudo aquilo não está no seu imaginário a respeito do Messias. No entanto, dessa nuvem sai uma voz: “Este é o meu Filho, o escolhido. Escutai-O”. “Ouvir” deverá ser a primeira atitude dos discípulos. “Shemáh Israel” – “ouve Isabel” é o grande mantra que perpassa todo a Sagrada Escritura. A constante repetição revela sua importância e, certamente, indica a dificuldade de bem ouvir a Palavra do Pai.

Hoje precisamos urgentemente “interiorizar” a Palavra de Deus se quisermos reavivar a nossa fé. Não basta ouvir o Evangelho de forma distraída e superficial, rotineira e gasta, sem qualquer desejo ou motivação de “ouvir” e “escutar”. Não basta tampouco ouvir de forma inteligente, com a preocupação de apenas de entender. Que a “nuvem” da presença divina nos envolva e nos torne sensíveis aos sinais de sua presença e de seus ensinamentos. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ