31º Domingo do Tempo Comum

29/10/2021

“Escuta” – “Shema Israel”- Mc 12,28-34 – Estamos no 31º domingo do Tempo Comum e o cenário do Evangelho deste domingo é Jerusalém, centro do lugar onde vão dar-se os últimos passos desse caminho que Jesus, com os discípulos, vem percorrendo desde a Galileia. Logo após a cura de Bartimeu, em Jerico (Mc 10,46-52), Jesus entrou, de forma bem visível, na cidade de Jerusalem. Iniciou suas atividades e seus ensinamentos no centro do poder politico-religioso-econômico. O ambiente é de tensão, pois tomou diversas iniciativas que afrontaram as autoridades: expulsão dos vendilhões do Templo com a acusação de que fizeram da “casa de Deus um covil de ladrões” (Mc 11,15-18). Contou a parábola dos vinhateiros homicidas (cf. Mc 12,1-12), em clara referência aos dirigentes. Os Fariseus, Herodianos (12,13) e Saduceus (12,18) buscam meios para condenar Jesus imediatamente.

Neste ambiente entra em cena um escriba para perguntar a Jesus qual o maior mandamento da Lei. Não há qualquer insinuação de que seja para provocar Jesus, como em tantas outras ocasiões. O escriba, pelo que tudo indica quer, sinceramente, saber qual a hierarquia dos mandamentos, ou seja, que Leis são prioritárias. Num contexto de 613 leis, era preciso priorizar algumas, visto ser impossível atribuir o mesmo valor a todas elas. O assunto era de intermináveis discussões entre os escribas e doutores da Lei, na época de Jesus.

Em reposta à pergunta do escriba, citando a grande profissão de fé que todo o judeu recitava no início e no fim do dia, o “Shemá Israel”, (cf. Dt 6,4-5), Jesus declara solenemente que o primeiro mandamento é o “amor a Deus”, (v. 30): “com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças”. A bem da verdade, Jesus inicia com um outro “imperativo” que nem sempre é muito considerado: “escuta”. Jesus inicia com uma ordem, um “mandamento” que antecede todos os demais: “escuta”. Escutar, ouvir, dar atenção é um pressuposto para o grande mandamento do amor a Deus. Escutar é condição para amar. Escutar, sensibilidade para ouvir, dar atenção as pessoas são grandes desafios para toda a humanidade. Não se tem tempo e nem interesse em escutar os outros. Temos a tendência de escutar-nos somente a nós mesmos. Quem não escuta o outro, quem não escuta a Deus e as pessoas, não ama, não observa o maior mandamento da Lei. “Amar a Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças”. Isto fica mais evidente a seguir, quando Jesus prossegue imediatamente com um segundo mandamento: “amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Amar o próximo, escutar o próximo como a si mesmo. Ou seja: o maior mandamento é o “mandamento do amor”, que brota de um “escuta”, de um abrir-se para além de si mesmo. Só quem sabe escutar é capaz de amar: amar a Deus e amar ao próximo.

Diante da pergunta do escriba Jesus indica o maior mandamento, mas inicia com o pressuposto para cumprir este mandamento. Escuta!  Uma grande aprendizagem a ser assumida nestes tempos em que a Igreja deseja ser “sinodal”, na “comunhão, participação e missão”. É muito significativo que o Papa Francisco queira preparar o Sínodo de 2023 com um grande “mutirão de escuta”. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ