3º Domingo da Páscoa

20/04/2023

Caminhar com Jesus forasteiro – Lc 24,13-35 – O Evangelho do 3º domingo da Páscoa é um dos mais conhecidos do Novo Testamento, mas também um dos mais simbólicos. É um relato exclusivo de Lucas, conhecido como o Evangelho dos “discípulos de Emaús”. Certamente poderia receber outros títulos, até bem mais significativos. Trata-se de um relato de sabor teológico especial, no qual Jesus ressuscitado acompanha dois discípulos magoados e desolados, que caminham para Emaús, lugar de resistência e luta política. Em certas etapas de sua história, Emaús desempenhou um importante papel administrativo, militar e econômico. A menção de Emaús no 1º livro dos Macabeus relaciona a aldeia com as guerras de Judas Macabeu contra os gregos (século II a.C.). Hoje não se tem uma localização certa desta aldeia. É para Emaús que os dois discípulos se dirigem. Seria seu lugar de origem, sua moradia? Poderia ser um casal que retorna para casa após os festejos da Páscoa em Jerusalém. Podemos nos perguntar: os dois discípulos estão abandonando o Projeto de Jesus para reassumir um projeto político? Estaria ocorrendo tal fenômeno na época em que o Evangelho de Lucas foi escrito? Não podemos saber, pois o relato de Lucas não é uma reportagem jornalística histórica, mas uma revelação sobre Jesus vivo e ressuscitado presente na vida das comunidades, que explica as Escrituras e faz arder o coração. Os dois discípulos representam todos os discípulos que sofreram desilusões e vão se afastando da comunidade, põem-se a caminhar pelas estradas da vida, sem compreender as razões de sua adesão a Jesus no passado e o fracasso presente de suas esperanças. Também não percebem que Jesus, na figura de forasteiro, peregrino, caminha com eles.

O relato em si é muito conhecido e buscou-se entre nós Irmãs, seu aprofundamento. Voltemos então nosso olhar para uma possível atualização. A mensagem dirige-se certamente a todos nós, discípulos e discípulas de Jesus, de ontem e de hoje, que caminhamos desanimados, com “rosto sombrio”, desiludidos/as com a política, com a Igreja, com a VR. Nossos sonhos e dedicação à causa do Reino, nossa opção por uma VR profética, nossa entrega ao espírito missionário, nossa fé numa Igreja com opção clara pelos que Jesus privilegiou, tudo parece caber na confissão “nós esperávamos”. O convite do relato parece ser bem oportuno para nós hoje também. Acolher Jesus que caminha conosco e inicia nos dizendo: “Homens sem inteligência e lentos de espírito para acreditar em tudo o que os profetas anunciaram!”

Ocorre que nós também não conseguimos reconhecê-lo, pois os nossos corações estão cheios de perspectivas erradas acerca da vida de Jesus, de conhecer verdadeiramente a sua pessoa, de cultivar intimidade com Ele e de segui-lo até o fim, até a cruz. “Não tinha o Messias de sofrer tudo isso
para entrar na Sua glória?”
Um tal messias não atrai pessoas centradas no seu Eu, autorreferenciais, egoístas, refugiadas em suas “zonas de conforto”. Porém, apesar de nossas mentes fechadas, de nossas opções equivocadas, de nossos “rostos sombrios”, Ele se faz nosso companheiro de viagem, caminha conosco passo a passo, alimenta a nossa caminhada com a esperança que brota da sua Palavra e da partilha do pão. Daí brota a coragem de partir, mesmo que seja a noite, retornar à comunidade e anunciar a maior alegria que o mundo já experimentou. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ