3º Domingo da Quaresma

29/02/2024

“Estava próxima a Páscoa dos judeus” – Jo  2,13-25 – Caminhamos já para o terceiro domingo da quaresma e a Liturgia vai nos convocando para intensificarmos nosso processo de conversão e de renovação. Esta mudança de vida tem a ver com as duas dimensões fundamentais de nossa existência: a nossa relação com Deus e a nossa relação com os irmãos. As três leituras deste domingo  giram em torno destas duas dimensões. A primeira, do livro do Êxodo (cf Ex 20,1-17) faz como que uma síntese de tudo o que se refere à nossa relação com Deus e o nosso agir com os irmãos. O relato do Evangelho visa orientar para a correta relação com Deus, tão longe do projeto originário. Inicia informando que “estava próxima a Páscoa dos judeus”. É significativo que o evangelista informe que se trata da “festa dos judeus”; ainda é festa dos “judeus” e que Jesus vai lhe dar novo sentido. João situa o episódio logo no inicio do Evangelho, enquanto os sinóticos o colocam na semana que antecede a morte de Jesus. Para os judeus, a Páscoa era a principal festa de seu calendário e sua origem estava na celebração da libertação do Egito. No tempo de Jesus, esta festa nada mais tinha de memória da Libertação. Grandes multidões vinham para Jerusalém que, normalmente, teria à volta de 55.000 habitantes. Na festa chegava a ter em torno de 125.000 peregrinos. No Templo sacrificavam-se uns 18.000 cordeiros, destinados à celebração pascal. A tradição religiosa determinava a origem e qualidade destes cordeiros O comércio relacionado ao Templo era intenso. Eram taxas de licença para instalação de postos comerciais, eram postos de vendas de animais para os sacrifícios e vários outros produtos destinados à liturgia do Templo cujos rendimentos eram destinados às famílias sacerdotais. Havia tendas de venda que pertenciam, directamente, à família do sumo-sacerdote. Havia, também, as tendas dos cambistas que trocavam as moedas romanas correntes por moedas judaicas, pois as compras só podiam ser feitas com moedas judaicas. Este comércio mantinha a cidade e sustentava a nobreza sacerdotal, o clero e os empregados do Templo. É neste contexto que Jesus pega no chicote de cordas, expulsa do Templo os vendedores de ovelhas, de bois e de pombas, derruba as mesas dos cambistas e passa a se revela como “o messias”, que anuncia a chegada da verdadeira Páscoa, dos novos tempos. Os líderes judaicos ficam indignados. Com que legitimidade Jesus assume uma atitude tão radical e grave? Com que direito Ele se autoriza abolir o culto oficial prestado a Jahwéh? O grave não é o chicote de cordas e o gesto de aparente violência, mas abolição do sistema de sacrifícios e doutrinas. Jesus declara o fim da “Páscoa dos judeus”, com seus ritos e o inicio da “Páscoa  de Jesus”, com sua nova relação com Deus e com os irmãos. “Vos sois todos irmãos e irmãs”, é o que Jesus proclamou e a CF de 2024 reafirmou. Jesus desafia os líderes religiosos  e deixa claro que Ele é o “novo Templo, ou seja, Ele é o lugar onde Deus reside, onde Se encontra com  a humanidade. Aquilo que a antiga Lei já não conseguia fazer, o de estabelecer a verdadeira relação entre Deus e a humanidade, Jesus agora o faz. A “festa dos judeus” chega ao seu fim e se inaugura a “Páscoa de Jesus”.  Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ