3º Domingo de Páscoa

28/04/2022

“Tu és meu amigo”? – Jo 21,1-19 – Estamos no terceiro domingo da Páscoa e a Liturgia nos traz um verdadeiro tesouro de mensagem evangélica. Como em todo o Evangelho de João, precisamos fazer uso da linguagem simbólica para bem compreender as narrativas do 4º Evangelho.

Os estudiosos afirmam que o Capitulo 21 de João é um acréscimo posterior, pois em Jo 20,30-31 temos uma primeira conclusão desta bela obra. Além disto, há diversas diferenças de linguagem, de estilo e de teologia neste capítulo. Trata-se de um acréscimo que, em linguagem altamente simbólica, revela a vida da comunidade joanina em tempos posteriores, buscando solidificar a relação entre Jesus e seus seguidores, e a missão da comunidade.

Do ponto de vista literário, o texto está claramente dividido em duas partes: A primeira (vv. 1-14) é uma parábola sobre a missão da comunidade. Na segunda parte (vv. 15-19), Pedro é questionado sobre seu amor a Jesus. Todo o relato utiliza a linguagem simbólica e tem carácter de “sinal”.

A primeira parte começa por apresentar os discípulos, que aqui são “sete”, número simbólico, que indica a “totalidade”. Representam a totalidade da Igreja, empenhada na missão de anunciar a boa nova, aberta a todas as nações e a todos os povos. A imagem utilizada é a da pesca. Pedro preside a missão, pois é ele que toma a iniciativa de ir pescar. Os demais o seguem prontamente. A pesca é feita durante a “noite”, tempo de trevas, de escuridão: significa sem a presença de Jesus. O resultado da ação dos discípulos é um fracasso completo. A chegada da manhã, da luz, coincide com a presença de Jesus, que não estava com eles no barco, mas em terra. Concentrados no seu esforço inútil, os discípulos nem reconhecem Jesus quando Ele se apresenta. O grupo está desorientado e decepcionado pelo fracasso. O cenário do Calvário persiste na memória de todos. Jesus dá indicações de como e onde pescar e as redes enchem-se de peixes. A mensagem fica clara: o êxito da missão não se deve ao esforço humano, mas sim à presença viva de Jesus e à palavra do Senhor ressuscitado. Quem primeiro reconhece isto é o “discípulo amado”, aquele que é íntimo de Jesus, que faz a experiência do amor. Isto vale para ontem, hoje e sempre Missão é fruto de uma amizade com Jesus.

O número dos peixes apanhados na rede (153) é de difícil explicação. Segundo um senso mais comum, significa totalidade e universalidade, todas as nações e todos os povos.

Na segunda parte do texto (vv. 15-19), Jesus interroga Pedro sobre o seu amor por Ele. Há quem veja neste questionamento uma referência às três negações da paixão. Foi Pedro também que, na ceia, não quis que Jesus lhe lavasse os pés. Até então, Pedro se revelou como aquele discípulo que segue sim a Jesus, mas seu foco é  outro: não é uma relação de serviço, de amor, de amizade. Tem mentalidade de domínio, de autoridade e não de serviço amoroso. Jesus desafia Pedro, mais uma vez, a mudar de mentalidade. A sua relação com Jesus deve ser semelhante a do “discípulo amado”. Vem o tríplice questionamento: “Simão, filho de João, tu me amas?”.

Para que Pedro continue sendo aquele que preside a missão, precisa ser “amigo” de Jesus. Isto vem sendo construído ao longo de todo o Evangelho, conforme podemos ler: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamei-vos amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos dei a conhecer”. (15,15). Assim sendo, há quem traduza a pergunta de Jesus a Pedro, da seguinte forma “Simão, filho de João, tu és meu amigo?” Jesus quer um amor de amizade, de intimidade, de diálogo. Pedro é convidado a perceber que, na comunidade, o valor fundamental é o amor; a amizade. Uma relação de amizade com Jesus e com a comunidade capacita para o verdadeiro seguimento e para a liderança da comunidade (cf. Jo 21,19). Jesus também convida Pedro a perceber onde é que reside, na comunidade cristã, a verdadeira fonte da autoridade. Só quem é amigo e ama muito, que entra na lógica do serviço e da doação, poderá presidir a comunidade de Jesus. Ontem, hoje e sempre.  Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ