3º Domingo do Tempo Comum

20/01/2023

O Batista foi preso – Mt 4,12-23- Já caminhamos para o terceiro domingo do Tempo Comum e o apelo da Liturgia deste dia é a conversão, a mudança de foco em nossas opções de vida. O relato que nos é proposto como Evangelho funciona um pouco como “texto-dobradiça”, que encerra a etapa da preparação de Jesus para a missão (cf. Mt 3,1-4,16) e lança para a etapa do anúncio do Reino.

A paisagem do episódio é a Galileia, zona de população diversificada e ponto de encontro de muitos povos. O cenário do texto é Cafarnaum, que faz limites com os territórios de Zabulão e de Neftali, na margem do lago de Genezaré. Por Cafarnaum passa a estrada do “caminho do mar”, que ligava o Egipto e a Mesopotâmia. Era considerada a capital judaica da Galileia. A sua situação geográfica abria-lhe, também, as portas aos territórios pagãos da margem oriental do lago. Esta situação geográfica certamente influenciou a itinerância de Jesus, que deixa o pequeno vilarejo de Nazaré e vai viver na cidade de Cafarnaum, por onde circulam muitas pessoas de diferentes lugares e as notícias correm com mais dinamismo.

O ponto de partida da narrativa é a notícia de que João Batista foi preso. Parece que a prisão do Batista, conforme os Evangelhos sinóticos, faz Jesus iniciar o anúncio do Reino de forma clara e decidida. Em Marcos lemos que Jesus afirmou: “Cumpriu-se o tempo, o Reino de Deus está próximo: convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Em Mateus, após a prisão do Batista, Jesus deixa a pequena aldeia de Nazaré e vai habitar em Cafarnaum. Na terra humilhada e desprezada, vai começar a brilhar a luz da libertação; e essa libertação vai atingir, também, os pagãos que acolherem o anúncio do Reino. O anúncio libertador de Jesus apresenta, desde logo, uma dimensão universal.

Jesus começa dizendo: “Arrependei-vos, porque o reino de Deus está próximo”. O convite ao “arrependimento” é um convite a uma mudança de lógica: passar da lógica humana para a lógica divina. É um reorientar a vida para Deus, em que Deus e os valores do Reino passam a estar no centro da existência humana.

Segue o episódio do chamamento dos primeiros discípulos (vv. 18-22), que não deve ser lido como relato histórico, jornalístico. É uma catequese sobre o chamamento e a adesão ao projeto do “Reino”. A resposta pronta e generosa dos primeiros discípulos, que não deve ter ocorrido assim de imediato, mostra a atitude exemplar de quem opta por Jesus e seu Reino.

O relato sublinha ainda uma diferença fundamental entre os seguidores de Jesus, que foram “chamados diretamente por Jesus” e os que se juntavam em torno dos mestres, dos “rabis” do judaísmo. No judaísmo, eram os discípulos que escolhiam seu mestre. A novidade aqui é que a iniciativa é de Jesus, que chama os que Ele quer. E os discípulos renunciam à família, ao seu trabalho, às seguranças instituídas e seguem Jesus. Esta ruptura indica a radical mudança de lógica: abandono da lógica humana e mergulho na lógica divina.

O Batista foi preso e Jesus surpreende a todos. Ao invés de se deixar intimidar, de silenciar por prudência, como seria da lógica humana, inicia chamando seguidores, conclama à conversão, e anuncia a proximidade de um novo “Reino, exatamente este que levou o Batista à prisão e depois à morte. A conversão traz serias consequências…

Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ