4º Domingo do Tempo Comum

27/01/2022

‘Hoje cumpriu-se esta Palavra– Lc 4,21-30 – O caminho da profecia é um caminho de sofrimento, de solidão, de risco, mas a última palavra é a de Deus. O profeta Jesus foi desprezado pelos habitantes de Nazaré, que esperavam um Messias espectacular e não entenderam a proposta profética de Jesus. Estamos em continuidade ao Evangelho do domingo anterior. Jesus foi a Nazaré, entrou na sinagoga, foi convidado a ler um texto dos Profetas e a fazer o respectivo comentário… Escolheu a citação de Is 61,1-2 e “todos davam testemunho em seu favor e se admiravam das palavras cheias de graça que saíam da sua boca”.  “Palavra”, em hebraico, tem sentido mais dinâmico  do que em nossa linguagem  ocidental. Palavra é  “Dabar” e tem sentido de “palavra e ação”, ela pronuncia e realiza. Por exemplo, no relato da criação se repete: “Deus disse: haja… e houve”. O mundo foi gerado pela “Dabar”, que fala e acontece. Assim sendo, o relato deste domingo mostra claramente a força da palavra que pronuncia e realiza. Jesus leu a passagem de Isaías, e mostra a realização da mesma e de forma atualizada. “Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir”.

Enquanto Jesus leu e comentou, sua palavra gerou admiração, mas quando trouxe esta palavra para “hoje”, os habitantes de Nazaré reagiram negativamente. As consequências práticas, concretas da Palavra a favor dos pobres, dos marginalizados, dos excluídos, geraram rejeição nos presentes. Um ‘Messias’ sábio, sim, mas não com um cujo programa a favor dos pequenos, dos sem voz e sem vez, que traga a libertação de todos os que sofrem alguma forma de detenção. Lucas narra o processo de libertação gerada pela Palavra. Os nazarenos não aderiram a esta verdade e quiseram deter Jesus. Ele, porém, “passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho”. Ninguém pode deter a força da palavra, até ela alcançar sua meta, até chegar a todos os povos. Esta é a razão da referência a Elias com a viúva de Sarepta, e a Eliseu com um leproso sírio. O caminho da Palavra é ser anúncio de Salvação para todos os povos. A salvação é universal.

Nestes tempos estamos em processo sinodal. Uma verdadeira Igreja é sempre “Sinodal”, ou seja “caminha junto”, em “comunhão, participação e missão”. É o tripé do “edifício espiritual. Talvez os habitantes de Nazaré até quisessem “comunhão e participação” na fama de Jesus, participação especial na glória de um Messias triunfante. Mas a “missão” de partilhar a Boa Nova do Reino com os excluídos e ir a todas as nações, isto não estava em seu universo.

Como outrora, também hoje há muitos que, mesmo sendo da “família de Jesus”, mesmo sendo até lideranças da Igreja, não está em seu universo a missão, especialmente entre os excluídos e os que estão fora de sua “zona de conforto”.  Ficam também furiosos, expulsam os profetas de seu meio e querem precipitá-lo …Ė muito mais comodo ficar onde está, fixar-se em seus espaços, cuidar da “sua sinagoga. Cuidar das viúvas e dos leprosos é “para outros”. Mas a Palavra faz caminho e “hoje mesmo se cumpre esta profecia”. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ