5º Domingo da Páscoa

04/05/2023

Eu sou o caminho, a verdade e a vida” – Jo 14,1-12 – É o 5º domingo da Páscoa. O Evangelho de hoje não prossegue com as aparições do Ressuscitado, mas nos situa no ambiente anterior a sua morte. Trata-se da fase final da caminhada histórica do “Messias”. O evangelista vai narrando o  cenário que levou Jesus à morte. À medida em que Jesus avança em sua missão de revelar o Pai, aumenta o confronto aberto com os dirigentes judeus. O “sinal” da ressurreição de Lázaro foi decisivo:  levou o Sinédrio a decidir matá-lo (cf. Jo 11,45-54). Jesus sabe que a morte está no seu horizonte próximo, mas não recua. Aproveita o tempo que lhe resta para seus mais preciosos ensinamentos, que soam como um “testamento final”.

O cenário deste “testamento” é o de uma “ceia”. Durante esta ceia, Jesus revela que vai partir para o Pai e que os discípulos vão continuar no mundo. Os discípulos já perceberam que o ambiente é de despedida e que seu “mestre” lhes vai ser tirado. Estão inquietos e preocupados. A decisão de seguir Jesus, que começou na Galileia, vai terminar assim? Esta relação de amizade, de intimidade chega ao seu fim? O que será de suas vidas de hora em diante? É neste contexto que podemos situar as palavras de Jesus que o Evangelho de hoje nos apresenta.

Trata-se de uma preciosa página teológica: Jesus se declara: “Eu sou o “Caminho”. Faz eco ao “caminho” percorrido no deserto, quando Deus se revela como EU SOU. Agora Jesus se declara: “Eu sou”, o caminho, a verdade e a vida.  O “caminho” é o próprio Jesus e o que  Ele percorreu é o mesmo que os seus discípulos são convidados a percorrer. Os discípulos, na figura de Tomé, confessam não entender a linguagem simbólica usada por Jesus. Eles, como nós, compreendiam as palavras de Jesus em termos materiais. Caminho é caminho, é estrada. Ao longo do 4º Evangelho, João revela a vida e a missão de Jesus em linguagem simbólica. A imagem do “caminho” enquanto “projeto de vida”, já se faz presente no prólogo do Evangelho. Em Jo 1,14, lemos que Ele “armou a sua tenda no meio de nós” e ofereceu um “caminho” de vida em plenitude. No Evangelho do 4º domingo temos a frase fundamental de João: Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”. Jesus mostrou a toda a humanidade como, a exemplo dele, viver na dinâmica divina e entrar na intimidade do Pai. Na ceia de despedida Jesus mostra que se trata do último ato da missão que o Pai lhe confiou. Falta oferecer aos discípulos a mais preciosa lição, a lição do amor que é entrega total. Falta também o dom do Espírito, que os capacitará para viverem como Jesus, na obediência a Deus e na entrega total.

Para que esse último ato se cumpra, Jesus tem de passar pela morte: tem de “ir para o Pai”. Ao dizer “vou preparar-vos um lugar” (v. 2b), Jesus sugere que tem de ir ao encontro do Pai, para que a humanidade possa, pela lição do amor e pelo dom do Espírito, fazer parte da família de Deus. Nessa família, há lugar para todos: “na casa de meu Pai há muitas moradas” (v.2). A “casa do Pai” é a comunidade dos seguidores de Jesus. Qual é o “caminho” para chegar a fazer parte dessa família de Deus? A pergunta dos discípulos soa estranha, pois eles foram testemunhas da vida que Jesus levou e, portanto, conhecem de memória o “mapa” desse “caminho”. O problema se situa no nível da fé e da intimidade com Jesus. O “caminho” é Jesus (v. 6), é a sua vida, os seus gestos de amor e de bondade, o dom da vida por amor. Quem aceita percorrer esse “caminho” de amor, de entrega, de dom da vida, chega ao Pai e torna-se, como Jesus,  “filho de Deus”.  Ir. Zenilda L. Petry