5º Domingo da Quaresma

01/04/2022

A Lei e a Misericórdia – Jo 8,1-11- Estamos no 5º Domingo da quaresma e o rosto da Misericórdia de nosso Deus vai se revelando em novos traços, dando continuidade ao Evangelho do domingo anterior. O deste domingo consiste numa pequena unidade literária que, inicialmente, não teria pertencido ao Evangelho de João. Trata-se de uma inserção no contexto dos capítulos sete e oito (Jo 7- 8). O estilo literário não possui as características joaninas e está ausente em muitos manuscritos antigos, segundo muitos estudiosos. Por que houve esta inserção? Como afirma Santo Agostinho, é o encontro da “miséria e com a misericórdia”, a vida contra a morte.

Olhando o texto mais de perto, vemos que a narrativa tem como cenário o templo onde Jesus ensinava, quando escribas e fariseus trazem-lhe uma mulher que fora “surpreendida em flagrante delito de adultério” (cf Jo 8,2), Querem que Jesus profira a sentença condenatória. De acordo com Lv 20,10 e Dt 22,22-24, a mulher devia ser morta. Só que a Lei estava sendo manipulada, pois em caso de “flagrante”, deviam trazer os dois para ser julgados. Trazem somente a mulher, numa clara demonstração da cultura patriarcal que prevalecia. Além desta violação, colocam a mulher no “meio dos presentes”. Ela estaria impura, não poderia ser introduzida no Templo. Temos diversas violações da Lei por parte daqueles “defensores da Lei”. Diante de Jesus está uma mulher que, de acordo com a Lei, tinha cometido uma falta que merecia a morte. Para os escribas e fariseus, era uma especial oportunidade para testar a ortodoxia de Jesus e a sua fidelidade às exigências da Lei. Para Jesus, foi mais uma oportunidade para revelar a misericórdia de Deus e mostrar como a Lei e as tradições dos escribas e fariseus estavam superadas.

Como se pode bem ver, Jesus não procura minimizar o pecado ou inocentar o pecador. Sabe que o pecado gera infelicidade e rouba a paz, mas também não aceita uma Lei que, em nome de Deus, gera morte. Também Jesus não busca saber se houve ou não adultério, nem questiona sobre a ausência do parceiro neste “flagrante delito”. A narrativa não é um relato biográfico, mas exemplar e simbólico, no qual a mulher representa todos os pecadores, os excluídos, os transgressores das leis. Jesus, que bem conhece os corações, sabe bem que os acusadores queriam ter motivo para O acusarem por violar as leis. Ele fica em silêncio durante uns momentos e escreve no chão, como se pretendesse dar tempo aos participantes para repensarem suas ações. “Quem de vós estiver sem pecado, atire a primeira pedra”.

E continua a escrever no chão. Muitos imaginam que escrevesse os pecados dos presentes, o que certamente não procede. Escrever no chão significa dizer que nada vale, não é documento válido, pois apaga logo. Talvez escrevesse leis e tradições que perderam sua validade. Isto se evidencia na cena que segue: “Escribas e fariseus se retiram, a começar pelos mais velhos” e Jesus nem sequer pergunta à mulher se ela adulterou mesmo, se está arrependida, se reconhece seu pecado. Convida a ela e a todos os que ela representa, a seguir um caminho novo, de liberdade e de paz: “Eu não te condeno, vai e não tornes a pecar”.

É a misericórdia de Deus para com todos aqueles e aquelas que a teologia oficial considerava fora da salvação. A lógica de Deus é uma lógica de misericórdia, que não tem muita lógica humana, pois só o amor abre para a realidade do Reino de Deus. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ