6º Domingo de Páscoa

11/05/2023

Não vos deixarei órfãos – Jo 14,15-21 – Continuamos no mesmo contexto do Evangelho do domingo passado. A narrativa é exclusiva do Evangelho de João. É de uma profundidade teológica incomparável. As autoridades judaicas já decidiram matar Jesus e Ele tem conhecimento de tudo. Jesus se encontra com seus discípulos numa ceia. Durante esta “ceia”, Ele como que “se despede” de seus discípulos e faz suas últimas recomendações. Fala do fim próximo, do seu retorno ao Pai e afirma que os discípulos irão continuar no mundo, buscando percorrer o caminho que Ele percorreu: o da entrega a Deus e do amor radical aos irmãos. Os discípulos, porém, não alcançam compreender o sentido do que Jesus lhes fala. Estão inquietos e desconcertados. Jesus iniciara dizendo: “não se perturbe o vosso coração” (14,1). Porém estão desconcertados. Para eles, parece impossível percorrer esse “caminho” se Jesus não estiver caminhando com eles. Jesus lhes garante que não os deixará a sós no mundo. Não vos deixarei órfãos: voltarei para junto de vós. Ele vai para o Pai e vai encontrar uma forma de continuar presente na vida de seus seguidores. A condição é que eles creiam em Jesus e O amem acima de tudo. O amor não é apenas um sentimento, uma sensação agradável.  O amor se manifesta em ações bem concretas: “Se alguém aceita os meus mandamentos e os cumpre, esse realmente Me ama. E quem Me ama será amado por meu Pai e Eu amá-lo-ei e manifestar-Me-ei a ele”. Mas qual a garantia de que Ele permanecerá acompanhando os discípulos ao longo do caminho, dando-lhes a coragem para o dom da vida?

            Jesus inicia falando do envio do “Paráclito”, que estará sempre com os discípulos. Paráclito, (palavra exclusiva do Evangelho de João), é um vocábulo estranho para nós. Vem da linguagem  jurídica e significa: “aquele que ajuda ou defende o acusado”. Aproxima-se da palavra “advogado”, mas nossas experiências hoje de advogados não ajudam o suficiente para a compreensão do papel do “Paráclito”. Juridicamente, o paráclito era um personagem que estava ao lado das vítimas, especialmente dos pobres, dos que não tinham quem os defendesse. Ele intercedia pelo acusado, assumia sua dor, era um “consolador”.

No texto do Evangelho de hoje a palavra é usada para revelar o Espírito Santo e seu modo de ser e agir (Cf Jo 14,26; 15,26; 16,7). É aquele que nos esclarece, nos consola, nos defende, nos garante a lucidez, fica do nosso lado. O “Paráclito” que Jesus vai enviar é o Espírito Santo, o “Espírito da Verdade” (v. 17).

Depois de garantir aos discípulos o envio do “Paráclito”, Jesus reafirma que não os deixará “órfãos” no mundo. A palavra “órfãos” é muito significativa na Sagrada Escritura: o “órfão” é o desvalido, o desamparado, o que está totalmente à mercê dos poderosos e que é vítima de todas as injustiças. Jesus fala claramente: os seus discípulos não vão ficar indefesos, pois Ele, através do Espírito Santo, vai estar ao lado deles, será seu defensor, seu consolador, sua luz e força.

Jesus garantiu aos seus discípulos o envio de um “defensor”, de um “consolador”, que iria conduzir os seus ao longo de toda história. Esta garantia é muito oportuna nestes tempos atuais, onde a crise de fé vai ocupando espaços em nossos corações, em nossas comunidades, na Igreja e em tantas lideranças eclesiais e religiosas. A presença do “consolador” junto aos que sofrem em consequência da pandemia, das guerras, das drogas, da violência, anima corações e  sustenta a esperança. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ