6º DOMINGO DO TEMPO COMUM

10/02/2022

“Felizes” e “infelizes” – Lc  6,17.20-26 – O Evangelho do 6º Domingo do Tempo Comum gera um certo  incômodo em diversos cristãos: Jesus proclama pessoas como “felizes” e outras como “infelizes”. Como isto é possível se Jesus é o rosto de misericórdia do Pai? Para entendermos melhor, é bom observar que o texto está situado literariamente na primeira parte do Evangelho de Lucas, no contexto de sua “atividade na Galileia” (cf Lc 4,14–9,50). Toda esta primeira parte do Evangelho de Lucas tem como ponto de partida o episódio da sinagoga de Nazaré, onde Jesus lê Isaías e anuncia o seu programa: “anunciar a Boa Nova aos pobres… a proclamar a libertação aos cativos…” (cf Lc 4,18-19). Tanto na sinagoga de outrora, como em certos ambientes cristãos hoje, há quem reaja e não aceite a preferência de Jesus pelos pobres. A Teologia da Libertação, por exemplo, sofre acusações que nada mais são do que manifestações da rejeição da “opção pelos pobres”.

Diferente de Mateus, Lucas inicia este “discurso da planície” com quatro bem-aventuranças (em Mateus são nove e é na montanha). Os destinatários são os pobres, os que têm fome, os que choram, os que são perseguidos, uma classe de pessoas privadas de bens e que sofrem a prepotência e a violência dos ricos e dos poderosos. São os desprotegidos, os explorados, os pequenos, os sem voz e sem vez, as vítimas da injustiça que, com frequência, são privados dos seus direitos e da sua dignidade pela arbitrariedade dos poderosos. Por isso, eles têm fome, choram, são perseguidos. São assim os primeiros destinatários da salvação de Deus, não porque sejam bons, mas porque estão numa situação miserável e Deus, na sua misericórdia, cuida deles preferencialmente.

Os “infelizes” (ou os quatro “ais”), são o outro lado da medalha. É uma denúncia à lógica dos ricos, dos opressores, dos poderosos, dos orgulhosos e auto-suficientes, dos que não acolhem a novidade revolucionária do “Reino”. As advertências aos ricos não significam que Deus não tenha para eles a mesma proposta de salvação; mas se eles persistirem nesta lógica de egoísmo, de prepotência, de injustiça, de autossuficiência, não terão acesso aos bens do “Reino de Deus”.

As “Bem aventuranças” são uma outra compreensão da existência humana, oposta à lógica do mundo  que  proclama “felizes” os que têm dinheiro, poder, domínio, mesmo que isto traga a morte de muitos. A lógica de Deus exalta os pobres, os desfavorecidos, os marginalizados e excluídos.

Assim sendo, o anúncio de Jesus é uma Boa Nova que enche de alegria os corações amargurados, marginalizados, oprimidos. Com o “Reino” que Jesus propõe, anuncia-se um mundo novo, um mundo de irmãos, onde a prepotência, o egoísmo, a exploração e a miséria serão definitivamente banidos e onde os pobres e marginalizados terão lugar como filhos iguais e amados de Deus.

Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ