7º Domingo do Tempo Comum

17/02/2023

Ouvistes o que foi dito aos antigos”– Mt 5, 38-48 – Neste dia 19 de Fevereiro,  7º domingo do Tempo Comum, continuamos com o “discurso da montanha” e com a apresentação da “nova Lei” que deve conduzir a caminhada cristã. No próximo domingo já iniciamos o tempo da Quaresma, este novo tempo Litúrgico, que irá nos convocar a uma vida de maior partilha, foco da Campanha da Fraternidade de 2023.

            Em continuidade ao que vimos no domingo passado, a construção literária do “sermão da Montanha” traz novas luzes sobre a realidade dos fiéis da comunidade de Mateus que viviam sérias dúvidas sobre a validade da Lei de Moisés diante da novidade de Jesus. O evangelista insiste que Jesus não veio “abolir a Lei”, mas levá-la à plenitude. A Lei de Moisés havia se tornado um conjunto de prescrições a serem cumpridas literalmente, dentro de uma lógica legalista, que nada tinha a ver com a transparência do divino na vida humana. Para alcançar a salvação, não basta reduzir a Lei a um conjunto de preceitos externos, como os fariseus e doutores da Lei haviam feito. A Lei tem o sentido de adesão a Deus e  ao seu “Reino”.

Neste domingo vemos mais dois exemplos de como resgatar o coração, sentido originário da Lei. O primeiro é o da Lei do “olho por olho, dente por dente” (cf. Ex 21,24; Lv 24,20; Dt 19,21), a conhecida “pena de talião” (vv.38-42). Muitas vezes ficamos até meio escandalizados com esta lei, achamos tratar-se de um exagero, de uma justiça vingativa ou também um direito a ser exercido. Para bem compreendermos esta lei, é preciso considerar que a humanidade carrega em si um instinto de violência e se faz necessário conter o impulso de vinganças excessivas, brutais, indiscriminadas. É precisa pôr limites à violência. A vingança só poderia ser proporcional à ofensa.

Na lógica de Jesus, uma lei que apenas limita a vingança não tem origem divina, não leva ao Reino. É preciso acabar com a lógica da violência. Para tornar mais clara a Sua proposta, Jesus apresenta quatro casos concretos: não responder com a mesma moeda àquele que nos agride fisicamente, mas desarmar o violento oferecendo a outra face (v. 39); no segundo (v. 40), o de levar ao tribunal por causa de uma túnica, mas oferecer também a capa; no terceiro (v. 41), a quem obrigar a caminhar uma milha, oferecer a companhia por duas milhas (uma referência às patrulhas romanas que, desorientadas, requisitavam os habitantes da Palestina para que as guiassem durante algum tempo); no quarto (v. 42), Jesus recomenda que não se ignore, nem se deixe sem atender aquele que pede dinheiro emprestado…

O segundo exemplo que o Evangelho de hoje nos apresenta refere-se ao “amor aos inimigos” (vv. 43-48). Jesus afirma que a Lei antiga recomendava: “ama o teu próximo e odeia o teu inimigo”…, O amor ao próximo, recomendado pela Lei, havia adquirido na época de Jesus, um sentido muito restrito: era o amor a um próximo mais chegado, que podia até incluir todos os israelitas, mas que não atingia, em nenhum caso, os gentios. O mandato de Jesus é uma verdadeira revolução e exige uma profunda mudança de mentalidade. Para Ele, não basta amar aquele que está próximo, aquele a quem me sinto ligado por laços étnicos, sociais, familiares ou religiosos; mas o amor deve atingir todos, sem exceção, inclusive os inimigos. Fica, assim, abolida qualquer discriminação, qualquer separação entre as pessoas. Qual o motivo desta exigência? É porque Deus também não faz discriminação no seu amor. Ele é o Pai que não distingue entre amigos e inimigos, faz “brilhar o sol e envia a chuva sobre bons e maus”, oferece o seu amor a todos, inclusive aos indignos (vv. 45).

O amor universal de Deus é a razão do amor que os membros do “Reino” devem oferecer a todos os homens e mulheres que Deus coloca no seu caminho. A expressão final “sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” equivale ao que encontramos na primeira leitura: “sede santos porque Eu, o vosso Deus, sou santo”. Viver na dinâmica do “Reino” exige a superação de uma perspectiva legalista e casuística. A nova lógica é viver em comunhão total com Deus, em sua intimidade transfigurada, deixando que a vida de Deus, que enche o coração humano, se manifeste na vida do dia-a-dia, especialmente nas relações fraternas.“Ouviste o que foi dito aos antigos… eu porém vos digo”.  Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ