14º Domingo do Tempo Comum
“Os setenta e dois discípulos voltaram cheios de alegria” – Lc 10,1-12.17-20 – O décimo quarto domingo do Tempo Comum nos mergulha na dinâmica de uma “Igreja em saída”, geradora da verdadeira alegria. Inicia pelo “envio missionário” de 72 discípulos. Eles devem ir “a todas as cidades e lugares aonde Ele devia de ir”. Devem anunciar a Boa Nova do Reino de Deus e “curar” todos os que estão feridos pela dureza da vida ou pela maldade humana. Na primeira leitura temos um texto do 3º Isaías, um profeta anônimo que profetizou em torno do ano 500 aC, após o exílio da Babilônia, no tempo da reconstrução de Jerusalém. Convida o povo ao júbilo e à consolação, pois a paz vai correr em Jerusalém. Chegou ao fim o seu luto. Uma palavra que tantas pessoas da Palestina gostariam de ouvir hoje. Na segunda leitura, temos um texto da carta aos Gálatas. Paulo mergulha na verdadeira fonte de toda a alegria: “alegrar-se na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo”. O Evangelho tem como cenário a caminhada de Jesus para Jerusalém. Os grandes ensinamentos presentes no evangelho de Lucas se dão ao longo do caminho. Diferente do judaísmo rabínico, Jesus ensina enquanto caminha. No judaísmo, os interessados escolhiam seu mestre e frequentavam sua escola, a casa de formação judaica. O mestre Jesus de Nazaré escolhe, ele mesmo, os seus discípulos e ensina-os enquanto caminham. A escola de Jesus é no meio do povo, ao longo do caminho. A casa de formação dos discípulos é a itinerância, é a “rua de Formação”. No Evangelho deste dia não há informação sobre a localização onde Jesus e os discípulos estão. O relato do envio dos setenta e dois discípulos em missão é uma tradição exclusiva de Lucas. Os demais evangelistas citam o envio missionário dos “Doze”. Do nada aparecem 72 discípulos, ignorados por Mateus e Marcos. Certamente não se trata de um relato histórico. Lucas teria representado, neste grupo, os discípulos de todas as épocas, que caminham com Jesus e que envia ao mundo para anunciar o Evangelho. O texto tem duas partes. A primeira indicação é sobre o número dos discípulos envolvidos na missão: são “setenta e dois”, escolhidos por Jesus. Um número simbólico. Em Gn 10 temos a indicação de que este é o número das nações pagãs que habitam a terra. A boa nova de Jesus é uma proposta universal, destinada a todas as nações. Os discípulos são enviados “dois a dois”. Por que? Para os viajantes antigos, ir em duplas era uma necessidade, para ajudar-se mutuamente, defender-se de malfeitores. Pode também ser ressonância da lei judaica que exigia o testemunho de duas pessoas para a validade do depoimento. Também pode ser uma catequese lucana, para mostrar que o anúncio do Evangelho é uma tarefa comunitária, não feita por iniciativa pessoal e própria, mas em comunhão com os irmãos. Uma Igreja sinodal nas suas origens. Na segunda parte, Jesus dá as instruções necessárias para a missão. Uma verdadeira “cartilha missionária”. Alerta para as dificuldades da missão: os discípulos são enviados “como cordeiros para o meio de lobos”. Como os discípulos devem atuar? Não levar consigo nem bolsa, nem alforge, nem sandálias; não devem deter-se a saudar ninguém pelo caminho; não devem ir de casa em casa. O Evangelho tem força própria. A missão é urgente. A força do Evangelho não está nos recursos materiais. A demora em saudações, típica da cortesia oriental, deve ser evitada para evidenciar a urgência da missão. Não andar de casa buscando conforto a promoção pessoal. Uma missão realizada segundo os critérios do Evangelho, é fonte de muita alegria. A recompensa é a alegria pelo nome escrito nos céus. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ