21º Domingo do tempo comum
“Entrar pela porta estreita”- Lc 13,22-30 – O jeito de caminhar dos seguidores de Jesus é prosseguir, de olhos fixos em Jesus, a caminho da salvação. A liturgia deste domingo nos traz orientações de como bem prosseguir nesta caminhada. Na primeira leitura, um texto do final do livro de Isaías, encontramos a proposta de Deus para toda a humanidade: reunir homens e mulheres de todas as nações e línguas, numa comunidade universal de salvação. A salvação é proposta universal e não mérito de um pequeno grupo seleto. Na segunda leitura, da carta aos Hebreus, o autor orienta os cristãos a não olharem os sofrimentos e as contrariedades que suportam ao longo da vida, como se fossem castigo, mas perceber neles os sinais do amor de Deus. É na cruz que reside a ressurreição. Como vamos percebendo, a Palavra de Deus continua a romper nossas lógicas humanas e propõe sempre uma outra lógica. O evangelho deste domingo é até de difícil compreensão. O texto inicia dizendo que “Jesus se dirigia para Jerusalém e ensinava nas cidades e aldeias por onde passava”. Trata-se de mais um texto dos “relatos do caminho” (cf Lc 9,51-19,27), narrativas que estamos seguindo nestes diversos domingos. A formação dos discípulos vai se intensificando sempre mais. Certamente crescem as dificuldades de compreensão, uma vez que se aproximam de Jerusalém, lugar do grande confronto e da cruz. A cruz não estava no horizonte dos discípulos. Neste caminho “alguém” Lhe perguntou: “Senhor, são poucos os que se salvam?” Uma pergunta até estranha. Parece que a questão da salvação, ao longo da história de Israel, não era preocupação para eles. Acreditava-se que, após a morte, todos desciam ao “sheol”, o mundo dos mortos, e aí levavam existências iguais, independentemente daquilo que tinham sido em vida. No fim dos tempos haveria um julgamento. Mais tarde, porém, alguns grupos religiosos começaram a falar de outra vida, sementes de fé na ressurreição, onde os bons seriam recompensados e os maus castigados. Na época de Jesus discutia-se sobre quem se salvaria e quem seria condenado. Os mais pessimistas ensinavam que poucos se salvariam. Daí a pergunta de “alguém” no caminho. Jesus não responde diretamente à pergunta, mas pois falava de Deus como um Pai cheio de misericórdia, cuja bondade o levava a acolher todos, especialmente os pobres, os fracos e os pecadores. Para Jesus, o mais importante era saber e seguir as condições para pertencer ao “Reino”. Entrar no “Reino” é, em primeiro lugar, esforçar-se por “entrar pela porta estreita”. Esta imagem é explorada de muitas formas na pregação hoje, na maioria das vezes com focos moralistas. Lucas não explica o que é “entrar pela porta estreita’, mas se poderia considerar a realidade de então, onde a entrada nas cidades possuía duas portas: uma larga e outra estreita. A larga era destinada a carruagens puxadas por cavalos e outra, mais estreita, destinada à passagem de peões. Talvez a imagem esteja sugerindo que, para entrar no Reino, será necessário ser simples, renunciar o orgulho, a autossuficiência, o egoísmo, a ambição, o desejo de poder e de domínio. Pela porta estreita só passam os pequenos. Diante da provável dificuldade de compreensão da proposta, temos a referência de um banquete “banquete”. Quem participará, então, no banquete do Reino de Deus? O critério para poderem sentar-se à mesa do Reino não é por pertencerem ao “povo eleito, mas é a forma como acolhem a proposta de salvação que Jesus lhes fez. Não é pela fiel cumprimento da Lei, pela busca de méritos pela quantia de leis observadas, mas adesão gratuita à proposta de Jesus. Quanto àqueles que não acolheram a proposta de Jesus, esses ficarão fora do banquete do “Reino”. Ainda que tenham nascido dentro das fronteiras étnicas, geográficas e institucionais do “Povo eleito”, não participarão do banquete, pois não passaram pela porta estreita. A “porta larga” é mais atraente. Sendo um relato de Lucas, o evangelista da misericórdia e da ternura de Deus, fica estranho o linguajar tão duro de Jesus.” Certamente Jesus dirige estas duras palavras aos Judeus, ou melhor, às elites religiosas dos Judeus que se consideravam os merecedores da salvação, mas o ensinamento é universal. Todos os “discípulos”de ontem e de hoje, precisam estar vigilantes para passarem pela “porta estreita”, pois a atração pela “porta larga” é permanente. Despir-se do poder, do patriarcalismo, da ambição e entrar pela “porta estreita” é a grande convocação de Jesus e da Igreja. É a grande herança deixada pelo papa Francisco. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ