30º Domingo do Tempo Comum
“Meu Deus, tende compaixão de mim”- Lc 18, 9-14 – A liturgia do trigésimo Domingo do Tempo Comum, mais uma vez, nos oferece uma reflexão sobre a justiça e a misericórdia divinas. Diferente da justiça humana, tantas vezes corrompida pelo uso manipulado da Lei e por interesses pessoais, a justiça de Deus olha para o sofrimento dos pobres, dos mais fracos, dos excluídos, como na parábola da viúva, do domingo anterior. A justiça de Deus é amor e misericórdia. Todos os que estiverem disponíveis para acolher o amor misericordioso de Deus, encontrarão graça e salvação. A primeira Leitura, do Livro do Eclesiástico (ou “Ben Sirá”), fala aos poderosos gregos que Deus está do lado dos desprezados e faz justiça às vítimas da arrogância dos poderosos. A segunda Leitura nos oferece como que o “testamento” de Paulo: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé”. No Evangelho temos uma parábola, muito conhecida: a do “fariseu e do publicano”. Segundo o narrador, a parábola é dirigida “para alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros”. Não se nomeia ninguém. São “alguns”. Olhemos o contexto deste relato: Jesus e os seus discípulos continuam no caminho para Jerusalém. Jesus aproveita o caminho para preparar os discípulos para a missão que os espera. Falta pouco para alcançarem a cidade de Jerusalém. Não se trata do fim de uma viagem de passeio, visita ou de algum compromisso. Chega a “hora” em que Jesus, rejeitado e condenado pelas autoridades judaicas, vai ser crucificado. No relato deste domingo temos uma lição sobre a autorreferencialidade patológica e a humildade sadia. Curiosamente, o cenário do relato é o Templo de Jerusalém. A parábola inicia dizendo que “dois homens subiram ao Templo para rezar”. Dois personagens, cuja descrição visa esclarecer a verdadeira relação com Deus. Um “fariseu” e um “publicano”. Não são identificados pelo nome; logo, são dois personagens que representam dois modos de ser e de agir. Os “fariseus” eram um grupo de leigos, que faziam oposição aos saduceus, o partido sacerdotal. Tinham grande influência no meio do povo. Eram os defensores intransigentes da Lei, tanto da escrita quanto da oral. Eram fervorosos e acreditavam que o fiel cumprimento da Lei traria o Messias. Desprezavam os que não eram puros, os pobres da terra. Os “publicanos” eram coletores de impostos, servidores do governo romano, considerados pecadores, rejeitados pelos judeus. Eram excluídos da religião oficial. Na parábola, os dois homens “subiram” ao Templo para rezar. Ambos tem o mesmo objetivo: rezar. Colocar os dois no Templo, no mesmo horário e com o mesmo objetivo, já constitui uma provocação pois, socialmente, estão muito distantes um do outro. Também no Templo não estão no mesmo espaço. O fariseu está no “átrio dos israelitas” e se dirige a Deus, louvando e agradecendo por ser quem é, e por viver como vive. Pelo que faz, está convicto de que está acima dos demais seres humanos. O publicano, envergonhado, está em outro espaço, “à distância” (em que lugar?), faz a sua oração. Mantém a cabeça baixa, sem se atrever a levantar os olhos. Tem consciência da sua falta de dignidade, não tem “obras” da lei a que se agarrar para garantir a salvação. Também não se compara com outros homens; apenas reconhece o seu pecado e invoca a misericórdia de Deus. A apreciação final de Jesus não necessita de maiores considerações, pois a parábola já vai indicando este desfecho: “Eu vos digo que este desceu justificado para sua casa e o outro não”. O relato inicia dizendo que ambos “subiram” para o Templo. Agora ambos “desceram” para casa. O publicano volta “justificado”, ou seja, sua atitude foi comprovada e aceita por Deus. O fariseu, o “outro”, cheio de orgulho, autossuficiente, confiando nas suas obras, “desce” também para casa, mas não “justificado”, ou seja, Deus não confirmou sua oração. O veredicto final é mais uma a síntese de todo ensinamento de Jesus: “quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ