Solenidade de Cristo Rei do Universo
“Jesus, lembra-Te de Mim, quando vieres com a tua realeza”- Lc 23,35-43 – O 34º Domingo do Tempo Comum, no Ano C, celebra a Solenidade de Cristo Rei do Universo, que conclui o ano litúrgico. As leituras bíblicas do dia enfatizam que Cristo é o Rei do amor, do perdão, da misericórdia e do serviço, que liberta e salva. Seu trono é a cruz e sua coroa, de espinho, manifesta sua dor e o desprezo sofrido, que o identifica com as vítimas na história humana. A primeira leitura, do Livro de Samuel, faz memória da escolha e da unção do Rei Davi, um evento fora da lógica humana. Daí que o reinado de Davi foi sempre exaltado como tempo simbólico de felicidade e abundância, pois prefigurava o Messias Rei, alguém de escolha divina. Na segunda Leitura Paulo, na carta aos Colossenses, nos oferece um hino usado nas celebrações de batismo das primeiras comunidades, convite para que sintamo-nos parte da nova criação e da nova humanidade, renovada em Jesus Cristo, verdadeiro soberano de toda a criação. O Evangelho, com lucidez profética, nos leva ao Calvário, ao cenário da crucificação e morte de Jesus. Trata-se de uma proclamação da realeza em meio a extrema humilhação: Jesus está na cruz, num sofrimento indizível, é zombado pelos “chefes dos Judeus” e ironizado pelos “soldados”. Os representantes do poder político e religioso se reúnem para condenar um carpinteiro, um trabalhador. Uma placa indicava a causa de sua execução: “Este é o Rei dos judeus”. Judeus e romanos terão percebido a ironia da inscrição. Aquele que andou pela Galileia, curou doentes, alimentou famintos, perdoou pecadores, chamou os pobres à vida, assumiu uma forma de realeza que desestabilizou poderes políticos e religiosos então constituídos, agora está suspenso numa cruz, como malfeitor. Não há, neste quadro dramático, qualquer sinal que identifique Jesus com poder, com autoridade, com realeza terrena. A inscrição da cruz, porém, mesmo irônica aos olhos do mundo descreve, com precisão, quem é Jesus no projeto de Deus: Ele é o “rei” que governa, do alto daquela cruz, um Reino diferente dos reinos humanos, um “Reino” sonhado por Deus, regido pelos valores divinos. A cena final do Evangelho é a descrição da dinâmica deste novo Reino. O evangelista Lucas nos convida a olhar para os dois “malfeitores” que “tinham sido crucificados” ao lado de Jesus. São duas figuras simbólicas, sem nome. Representam a humanidade de todos os tempos. Um deles insulta Jesus e revela que seu olhar é o mesmo dos dirigentes judeus e dos soldados romanos. Um oprimido que pensa e age como opressor: Jesus se pretendeu rei e agora é um fracassado. Do outro lado temos mais um “malfeitor”. Ao vê-Lo entregar a vida por amor, reconhece a realidade divina presente na história, o Reinado de Deus! Desejou ardentemente abraçar tal projeto. Quer tomar parte deste Reinado. Assim fica claro o seu pedido: “Jesus, lembra -Te de Mim, quando vieres com a tua realeza”. Reconhece Jesus como Rei no patíbulo da Cruz! Celebra a vitória na entrega confiante do Crucificado! Trata-se da confissão de fé que tantos seguidores de Jesus manifestarão ao longo da história. A resposta de Jesus desconstrói toda a lógica humana: “em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso”. Podemos nos questionar: nestes mais de dois mil anos de cristianismo, conseguimos entender e aceitar a forma de Jesus ser Rei? Em nosso modo de pensar e de agir, de que lado nós estamos? Parece que precisamos de um rei todo poderoso, nos moldes do mundo. Acabamos revestindo suas imagens segundo os critérios das realezas humanas; fazemos do Calvário e da cruz templos suntuosos. As luxuosas roupas litúrgicas, por vezes, revelam o desejo pelos palácios e a suntuosidade das cortes… Que sejamos iluminados pela verdadeira realeza de Jesus crucificado e sigamos as orientações do Papa Leão XIV, em sua recente Exortação Apostólica Dilexi Te, sobre “o amor para com os pobres”, uma revelação do ser de Deus. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ