IV Domingo do Advento

18/12/2025

Sonhar, despertar, levantar, fazerMt 1,18-24 – A liturgia do último domingo do Advento nos mergulha mais profundamente no mistério da origem de Jesus. Não se trata de uma narrativa jornalística, mas de uma catequese que vai muito além da simples compreensão humana. A Liturgia nos convida a mergulhar num profundo silêncio e acolher o novo que vem a nós e de forma inesperada: um Messias que nasce de uma virgem e é assumido por um pai que “não era pai”.  A primeira leitura, do livro do profeta Isaías, dirigida ao Rei Acaz sobre seu herdeiro, prefigura o nascimento do verdadeiro rei de Israel. Nasce de uma virgem, por pura intervenção divina. Paulo, na segunda Leitura, na carta dirigida aos cristãos de Roma, confessa ser “servo de Jesus Cristo”, enviado ao mundo para testemunhar a boa nova do Reino. O Evangelho deste dia dá destaque à figura de  José, o homem que “sonha, desperta, levanta e faz”, o homem escolhido por Deus para acompanhar o Messias. O gênero literário empregado para as narrativas da infância de Jesus são conhecidos na cultura judaica, cultura da maioria dos membros da comunidade de Mateus, constituída de Judeu-cristãos. Neste gênero não se pretende narrar acontecimentos históricos, mas apresentar o mistério escondido por detrás dos relatos. Usa-se recursos do Antigo Testamento, tais como sonhos, aparições, anjos. O contexto histórico em que o Evangelho de Mateus foi escrito era de ideologia e dominação romana. O imperador Vespasiano, então no poder, era  recebido e aclamado como: “salvador” e “benfeitor”. Neste contexto, Mateus vai insistir que o “Salvador” de que o mundo precisa não é Vespasiano, mas Jesus, o grande “Benfeitor”. A salvação não virá de nenhum imperador, de nenhum governo, nem da vitória de um povo sobre outro. A humanidade precisa sim ser salva: ser salva do mal, da injustiça, das guerras, das ideologias de morte, da violência; precisa ser redimida e redirecionada para uma vida mais digna dos seres humanos. Essa é a salvação que Jesus nos oferece. Lembrando o sonhador José do Egito, temos agora a Palavra de Deus dirigida a José, também em sonho: “Ela dará à luz um filho, e você o chamará de Jesus! Ele salvará o povo.” O nome “Jesus”, em hebraico Yeshua, vem do verbo “salvar”. Jesus é Deus, o Salvador de toda a humanidade: salva e liberta de tudo aquilo que atrofia a vida. Mateus apresenta o Messias, como aquele que vem de Deus, que é o “Emanuel”, um nome marcante, absolutamente novo, que significa “Deus conosco”. José, no contexto da comunidade de Mateus, é escolhido para dar legitimidade ao Messias, como descendente de Davi. Jesus é o verdadeiro rei, o ungido de Javé, o Salvador. Vale um destaque à figura de José, uma figura discreta, silenciosa, simples, generosa, humana, “justa”. E é “justo”, não porque segue a lei judaica nos seus pormenores, mas porque age de acordo com a vontade de Deus e está disponível para acolher os desígnios de Deus. Não está apegado a lei, pois se assim fosse, teria movido um processo contra Maria, grávida “fora da Lei”. Violando a Lei a ser aplicada em tais circunstâncias, decide pelo abandono da “prometida” em casamento. Mas seus planos pessoais, por meio de sonhos, são transtornados e ele “desperta, levanta e faz”. Passados dois mil anos, que José e Maria nos ensinem a sonhar, despertar, levantar e acolher Aquele que vem nos salvar e caminhar conosco! Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ