Saboreando a Palavra
“O cuidado dos órfãos e das viúvas” – Mc 12,38-44 – 32º Domingo do TC. ”A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e, a si mesmo, guardar-se incontaminado do mundo” (Tg 1,27). Esta é um dos muitos textos da Sagrada Escritura em que se recomenda o “cuidado das viúvas”. Jesus mesmo teve especial atenção para com elas. Ressuscitou o filho único de uma delas (Lc 7,11-17); numa de suas parábolas toma uma viúva como modelo de insistência orante (Lc 18,1-5).
No Evangelho deste domingo há uma referência carregada de denúncia profética. Na primeira parte do texto (12,38-40) temos uma crítica muito severa aos escribas. Cultivam uma autoimagem suntuosa no modo de vestir, de rezar, de ocupar os primeiros lugares nos banquetes. São autoridades que querem ser reconhecidas e bajuladas pelo povo. Por outro lado, estas mesmas autoridades “devoram as casas das viúvas”. Não poderia haver acusação mais forte. Eles “devoram”… ou seja, destroem, consomem, dissipam… Certamente eram corruptos na administração dos bens das viúvas, uma vez que a mulher viúva, sem filho varão, não podia administrar os bens da família. Devoravam os bens delas, mas “faziam longas orações”. Abusam das viúvas e do culto, com status de justos e benfeitores.
O evangelista, conectado com a realidade das viúvas, prossegue com o episódio de uma “parábola em ação” (vv.41-44). Parte de uma realidade para anunciar a boa nova do Reino. Neste contexto, irradiam aspectos de contrastes. A viúva é aqui modelo de desprendimento total ante a cobiça dos “devoradores de suas casas”. Podemos entrar no cenário do texto e visualizar a cena. Após a contundente crítica aos escribas, Jesus senta-se perto da caixa de esmolas no templo e observa: de um lado, uma pobre viúva oferece discretamente duas moedinhas. Talvez o que tenha restado ou que nada valia para os seus “devoradores”. Do outro lado, temos gente importante que dá solenemente grandes quantias, gerando satisfação para o sistema do templo e admiração por quem fez a doação.
Poderíamos nos questionar: Estaria Jesus elogiando o ato da viúva ou há uma velada crítica ao sistema do templo que é capaz de fazer uma pobre viúva dar do que tinha de necessário para viver? Se Jesus veio para que todos tenham vida, é função do templo defender a vida. E as autoridades serão autoridades na medida em que forem promotores e não devoradores da vida.
Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ
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