Saboreando a Palavra
O Messias Servo – Lc 22,14,23-56 – Domingo de Ramos! Este domingo é celebrado também como o domingo da “entrada triunfal de Jesus em Jerusalém”. Se olharmos mais atentamente, nada há de “triunfal”, a não ser que celebremos o triunfo do “servo”, do humilde, do fiel, do obediente até a morte e morte de cruz. Que celebremos a vitória do Messias Servo, aquele anunciado pelo profeta Isaias, cujo perfil foi desenhado nos quatro cânticos do “servo sofredor” e que foi o perfil de Jesus. Desde o início da missão, Jesus foi tentado pelo diabo a seguir por outro caminho, o caminho do senhor, do poder (Lc 4,3-12). Então venceu a tentação e o diabo se retirou, mas prometeu “voltar em tempo oportuno” (Lc 4,13). Se tivesse optado pelo caminho do poder, entraria certamente em Jerusalém como os grandes vencedores, montado em cavalo vistoso e aclamado como herói. Ao contrário, Jesus vem montado num jumento e, para ser aclamado, seus discípulos convocam o povo para as devidas homenagens. O relato evangélico descreve, a seguir, a Paixão de Jesus, revelando assim mais claramente a razão desta “entrada em Jerusalém”. A narrativa da Paixão é antecipada por uma Ceia, com gestos extremamente proféticos, carregada de sentidos que ultrapassam todas as compreensões do que simplesmente se vê: a mesa não será mais apenas uma mesa, mas lugar da memória do Senhor; o pão não será mais apenas pão, mas de vida partilhada; o vinho não será mais apenas vinho, mas sangue derramado; os Doze não são mais apenas comensais, mas herdeiros da memória de Jesus. Assim outras dimensões desta ceia antecipam a vida e a missão da Igreja. A narrativa da paixão nos convoca a contemplar a morte de Jesus, uma morte como consequência de sua vida, de sua doação plena ao projeto do Pai, de sua fidelidade ao Espírito do Senhor que o conduziu em sua missão. Crucificado entre dois malfeitores, partilhando da mesma sorte dos condenados pelo poder romano, foi solidário com os excluídos e perdidos até o último suspiro. E aqui se revela definitivamente o rosto da misericórdia. Na cruz, ao que reconhecia que merecia todo aquele sofrimento pelo mal praticado e pedia que simplesmente “se lembrasse dele quando entrasse no seu reino” (Lc 23,42), Jesus não confirma que este malfeitor “merece” sofrer pelo mal praticado, e também não promete apenas “lembrar dele”, mas diz: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43). Ultrapassa toda dinâmica do mérito e da justiça e entra no reino da Misericórdia. E assim se confirma a trajetória de um Messias Servo, cujas celebrações se iniciam neste domingo de Ramos. Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ
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